Título: Revidar ou esquivar
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 01/09/2006, O GLOBO, p. 2

A campanha de Alckmin recebeu uma visita do ânimo e a de Lula, uma injeção de cautela. Ali voltou a ser proibido falar em vitória no primeiro turno e há um dilema sobre a mesa: como reagir à pancadaria iniciada: com fogo na mesma intensidade, desencavando escândalos tucanos e do governo FH, ou mantendo a linha ameno-propositiva, na crença de que tudo já foi absorvido.

O ministro Luiz Dulci minimizou ontem os resultados de um recrudescimento dos ataques do tucano, mas a luz vermelha está acesa na campanha. Embora tenha hoje 50% de preferências nas pesquisas, o que corresponderia a 55% ou 56% dos votos válidos, assegurando a vitória em primeiro turno, Lula mostrou apreensão em conversas com aliados nas últimas horas. Ouviu a avaliação de que, partindo para o ataque frontal, Alckmin pode crescer o suficiente para forçar o segundo turno. Todo cuidado com movimentos arriscados agora é pouco, concluiu-se por lá.

A dúvida é sobre como reagir aos ataques. Até certo ponto, pode ser correta a tática de ignorá-los, mantendo a linha atual do programa, em que Lula fala do que fez e promete o que faria num segundo mandato. Mas se o adversário tucano-pefelista toca fogo no palheiro, não reagir pode ser um erro. Passando a idéia de acovardamento, de que quem cala consente, Lula poderia perder alguns pontos, talvez preciosos.

Para o caso de ser adotada a tática de responder com fogo na mesma intensidade, algumas narrativas estariam sendo examinadas. Por exemplo: Lula diz pessoalmente em seu programa que, enquanto não souber quem paga os vestidos de sua mulher, Alckmin não tem moral para atacá-lo ou falar de corrupção.

O inventário de temas para o ataque de Alckmin é vasto. Apenas começou a ser empregado nos dois últimos programas, com as referências a Dirceu, Genoino, Humberto Costa e outros petistas muito próximos de Lula envolvidos em escândalos. E arrematou: ¿Lula não merece seu voto¿. Em breve começarão a ser mostradas cenas como as de Maurício Marinho e Waldomiro Diniz recebendo ou pedindo propina, trechos de depoimentos patéticos de Delúbio Soares nas CPIs, da deputada Angela Guadagnin dançando na absolvição de colega petista que recebeu do valerioduto e daí por diante. Na linha de atualidade, Alckmin ainda vai explorar as notícias econômicas ruins das últimas horas, como a desaceleração trimestral do crescimento do PIB e a ausência de cortes nos gastos na lei orçamentária para 2007, fatos que neutralizam a boa notícia da queda dos juros em 0,5%.

O caso dos sanguessugas constrange o PSDB, que tem alguns dos seus na lista, sendo o último o senador Antero Paes de Barros, um dos mais duros acusadores do PT. A campanha de Lula, para responder na mesma moeda, exumaria também velhos escândalos da era tucana: Sivam, Pasta Rosa, compra de votos para a emenda da reeleição, fitas do BNDES sobre as privatizações, Marka-Fonte Cindam. E até a prisão, pedida pela CPI dos Bancos, do ex-presidente do Banco Central de Fernando Henrique, Francisco Lopes.

Na área publicitária da campanha a hipótese não é bem vista. Mas na área política tem defensores. Com um empate no campeonato da corrupção, dizem os aliados, Lula teria mais chances de preservar seu eleitorado contra ataques do adversário. Estão tensos os lulistas, à espera do ataque.