Título: Um PIB minguado
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 01/09/2006, Economia, p. 23

Economia do país decepciona e cresce só 0,5% no 2º trimestre. Indústria encolhe

Aeconomia brasileira quase parou no segundo trimestre deste ano, esvaziando o chamado espetáculo do crescimento anunciado pelo governo. O Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todas as riquezas geradas no país) avançou só 0,5% de abril a junho contra o primeiro trimestre, quando a economia expandira 1,3%, informou ontem o IBGE. O resultado frustrou as expectativas dos analistas. Na comparação com o segundo trimestre de 2005, o PIB também avançou menos, 1,2%, contra 3,3% de janeiro a março. No primeiro semestre, a alta está em 2,2%, o menor crescimento registrado desde os seis primeiros meses de 2003, quando houve alta de 0,7%.

O instituto listou uma série de fatores isolados que prejudicaram a atividade econômica no período: desde paralisações informais para acompanhar os jogos do Brasil na Copa do Mundo, passando pela greve dos auditores da Receita Federal, até menos dias úteis. Mas, para os analistas, o motivo principal do freio na atividade está na valorização do real, que afetou diretamente as exportações brasileiras em volume, levando junto o desempenho da indústria, que caiu 0,3% no trimestre. Já a agropecuária cresceu 0,8% e os serviços, 0,6%.

¿ A greve da Receita afetou tanto as exportações (que caíram 5,1%) quanto as importações (-0,1% frente a janeiro a março). Com isso, a indústria reduziu a produção, diante da dificuldade na importação de insumos. O real valorizado por muito tempo também afetou o comércio exterior ¿ explicou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE.

A valorização de 15% da moeda brasileira no primeiro semestre frente ao mesmo período de 2005 travou a economia, diz Caio Prates, do Grupo de Conjuntura da UFRJ. Nas contas do economista, o país teria crescido 3,9% no semestre, se não fosse a contribuição negativa das exportações menos as importações:

¿ O freio na economia brasileira sempre veio dos juros altos. Desta vez, o câmbio valorizado foi mais relevante que os juros para travar a atividade. Os números do PIB mostram que a apreciação foi longe demais.

Investimento cai com construção fraca

De fato, pelos números mostrados pelo IBGE, até mesmo frente ao segundo trimestre de 2005, a quantidade exportada recuou. A taxa de -0,6% é a primeira queda desde o terceiro trimestre de 2003, ano em que a economia ficou estagnada.

¿ A diferença é que em 2003, a importação também recuou. Agora, ela cresceu 12,1% ¿ disse Rebeca.

Outro indicador que decepcionou foi o investimento. A formação bruta de capital fixo recuou 2,2% frente aos primeiros meses do ano, mas manteve-se em alta contra o mesmo período de 2005 (2,9%). No ano, ainda caminha acima da média do desempenho brasileiro: 5,9% contra 2,2%.

¿ A construção civil desacelerou (passou de 7% no primeiro trimestre para 2,6% no segundo). O crescimento frente a 2005 foi puxado por máquinas e equipamentos importados ¿ disse Rebeca.

Enquanto as exportações recuam, a demanda doméstica avança com força. O consumo das famílias cresceu 1,2% frente ao início do ano e 4% contra o segundo trimestre de 2005. Nessa comparação é o 11º crescimento seguido:

¿ Os aumentos de 6,8% da massa salarial e de 31,8% no crédito impulsionaram a demanda doméstica ¿ informou Rebeca.

Mesmo com a reação interna, a projeção do governo de a economia crescer até 4,5% este ano está descartada. Segundo o economista-chefe da Concórdia Corretora, Elson Teles, isso só seria possível se o PIB crescesse 6,7% no segundo semestre:

¿ É virtualmente impossível.