Título: Governo culpa Copa, greve e crime organizado
Autor: Patricia Duarte, Regina Alvarez e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 01/09/2006, Economia, p. 26

Integrante da equipe econômica lista fatores que teriam reforçado tendência de desaceleração, que já era esperada

BRASÍLIA e BELO HORIZONTE. A equipe econômica avaliou como ¿absolutamente normal¿ o fraco resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre. Um importante membro da equipe argumentou ao GLOBO que o desempenho é sazonal e que, por isso, a desaceleração era esperada. E apontou fatores extraordinários que reforçaram o que já seria uma tendência: a realização da Copa do Mundo, a greve dos auditores da Receita Federal e os ataques de uma facção criminosa em São Paulo, motor da economia nacional. Por isso, ainda há relutância no governo em revisar a projeção de expansão de 4% para o ano.

Esta foi justamente a explicação que os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo, deram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ficou contrariado com o resultado pífio da economia ¿ um dos pilares do marketing de sua campanha. Lula cobrou dos ministros resultados para os dois últimos trimestres do ano.

Ontem, Paulo Bernardo afirmou que o Brasil tem todas as condições de ter um crescimento sustentável e que os resultados do terceiro e quarto trimestre serão melhores. O ministro destacou que, para consolidar o crescimento, o governo que assumir em 2007 terá de enfrentar desafios na área fiscal e retomar a discussão sobre as reformas.

¿ Não posso dizer que o resultado foi bom, o que esperávamos, mas o Brasil tem todas as condições de ter um crescimento maior e sustentável ¿ disse o ministro.

Segundo um integrante do governo, a realização do Mundial de futebol, em junho, acabou ¿parando o país¿ nos dias de jogos da seleção brasileira:

¿ Uma fábrica parada por sete horas tem um impacto muito grande na economia.

A greve da Receita também teve reflexos, uma vez que emperrou exportações e importações. Isso é verdade, na argumentação do governo, de duas formas. Primeiramente, esvaziando o impacto das vendas externas sobre o PIB. A outra forma de impacto seria a diminuição da produção, devido ao atraso na chegada de máquinas, equipamentos e insumos importados.

Até os ataques violentos da organização criminosa em São Paulo foram citados, principalmente porque fábricas e áreas comerciais inteiras foram obrigadas a fechar ¿ às vezes um dia inteiro ¿ por mais de uma vez em maio e junho.

A equipe econômica, de acordo com um de seus integrantes, acredita que há um dado positivo na divulgação do PIB que foi negligenciado: o aumento da demanda, que, de forma anualizada, estava se expandindo entre 5% e 6% em junho. Sob esta ótica, o consumo e o investimento estão em alta.

Em Belo Horizonte, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, também creditou a ¿fatores sazonais¿ o resultado do PIB. Segundo ele, isso já era esperado. Mantega disse que a trajetória deve mudar este semestre:

¿ Acredito que a economia está crescendo a 4%. No primeiro trimestre, cresceu mais do que se esperava. No segundo, todo mundo esperava que houvesse um desaquecimento, o que de fato houve. As razões são conhecidas: Copa do Mundo, menos dias úteis de trabalho, greve da Receita, manutenção de algumas plataformas da Petrobras, redução das exportações. Foi pontual, superado, e já estamos numa trajetória de crescimento desde julho.

Ministro: país pode crescer mais, com investimento

Mantega disse que o país pode crescer a uma taxa maior, o que depende do investimento.

¿ Nós já podemos crescer a uma taxa maior, mas depende do investimento. Podemos crescer a uma taxa maior (de investimento) do que a de 21% do PIB, para a de 25% do PIB nos próximos quatro anos. Mas é preciso reduzir a carga tributária, o custo do financeiro, aumentar a oferta de infra-estrutura e da energia, o gargalo dos portos ¿ disse o ministro, após encontro com empresários na Federação das Indústrias de Minas Gerais.

Segundo ele, caso Lula seja reeleito, o desafio será o de garantir um crescimento sustentável acima de 5%.

¿ Estamos com crescimento sustentável, já reduzimos a vulnerabilidade, equacionamos a inflação e agora precisamos vencer novos desafios. Nunca o Brasil encontrou condições tão favoráveis.

COLABORARAM Sueli Cotta e Luiz Fernando Rocha