Título: VOLKSWAGEN AMEAÇA 21 MIL COM FÉRIAS COLETIVAS
Autor: Ronaldo D'Ercole e Cristina Coghi
Fonte: O Globo, 01/09/2006, Economia, p. 29

Montadora dá folgas a duas fábricas alegando prejuízo na produção causado pela paralisação em Anchieta

SÃO PAULO e RIO. A greve dos empregados da Volkswagen em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, iniciada terça-feira, já afeta a produção em outras fábricas da montadora no país. A Volks, inclusive, já ameaça decretar férias coletivas em outras unidades, ainda este mês. No início da noite, a montadora confirmou que ¿protocolou¿ junto aos sindicatos onde tem fábricas de automóveis (inclusive o de São Carlos, que faz motores) a intenção de dar férias coletivas a todos os empregados dessas unidades entre 18 e 27 de setembro. Se isso se confirmar, quatro das cinco fábricas da Volks no Brasil ficarão dez dias paradas, com mais de 20 mil trabalhadores em suas casas.

Por falta de peças e componentes (motor e câmbio) produzidos no ABC, a Volks acertou ontem com os sindicatos de metalúrgicos de Taubaté, no interior paulista, e de São José dos Pinhais, no Paraná, folgas de dois dias para as fábricas dessas cidades.

¿ Essa é uma medida preventiva e só será tomada caso persista a paralisação no ABC ¿ disse ontem um porta-voz da montadora.

Sindicato quer forçar montadora a negociar

A fábrica da Volkswagen no Paraná pára hoje e amanhã. A de Taubaté não funciona hoje nem no dia 6.

Em assembléia realizada ontem, os trabalhadores da fábrica do ABC decidiram estender a paralisação pelo menos até a próxima segunda-feira. Com a continuidade da greve e os seus efeitos sobre a produção das outras unidades de produção do grupo, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC tenta forçar a montadora a retomar as negociações, suspensas desde o último domingo.

Filiado à CUT, o sindicato do ABC marcou para o dia 6 ¿um dia nacional de luta¿. Este prevê a distribuição de cartas à população em frente às principais concessionárias da Volks em todo o país, informando sobre a crise e o impacto das demissões sobre a economia nacional.

A crise da Volks está se refletindo na campanha eleitoral, com comentários tanto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tenta ser reeleito, quanto dos candidatos Heloísa Helena (PSOL) e Geraldo Alckmin (PSDB). Em entrevista ao Jornal da Globo na quarta-feira, Lula lembrou de seus tempos de metalúrgico, dizendo ter chorado na porta da Volks e da Mercedes quando estas demitiram funcionários. Ele afirmou que a montadora tem problemas internos a resolver, mas assegurou que vai lutar pela manutenção dos empregos.

¿ Se uma empresa faz um projeto errado, ela também paga o preço de ter feito o projeto errado ¿ afirmou Lula. ¿ Acho que a Volkswagen se precipitou ao anunciar a dispensa dos trabalhadores por carta sem conversar com o governo e com o sindicato adequadamente. Possivelmente, teremos essa conversa. E nós, obviamente, vamos trabalhar para ver se a indústria automobilística consegue produzir, consegue vender mais, exportar mais e gerar mais emprego.

Alckmin critica câmbio valorizado

Já Heloísa Helena criticou ontem a postura do governo federal em relação à crise da Volks. Segundo ela, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, deveria intervir e oferecer créditos do BNDES à montadora.

¿ Se ele ( Marinho) estivesse entre os mais de 3 mil desempregados, desceria dessa pose de arrogância e covardia política e estabeleceria os mecanismos de intervenção. O BNDES pode e tem a obrigação de financiar.

Indagada por que o governo deveria socorrer uma multinacional, ela disse que ¿a prioridade é a preservação dos empregos de pais e mães que estão desesperados¿.

Alckmin, por sua vez, citou a crise ao comentar o mau desempenho do PIB no segundo trimestre. Ele atribuiu o resultado, em parte, à valorização do real em relação ao dólar, que prejudicou as exportações brasileiras.

¿ A Volkswagen montou uma plataforma exportadora para o carro Fox. Em três anos, ela foi inviabilizada pela desvalorização artificial do dólar ¿ afirmou Alckmin.

(*) Especial para O GLOBO