Título: UNCTAD CRITICA AÇÕES DE BIRD E FMI
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 01/09/2006, Economia, p. 29
Órgão da ONU sugere ações não convencionais para países emergentes
BRASÍLIA. A Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad) divulgou ontem relatório no qual sugere que os países emergentes adotem uma série de medidas consideradas heterodoxas para impulsionar seu crescimento econômico. A entidade defende que os governos tenham maior margem de manobra para a intervir na economia e conduzir os países ao desenvolvimento. Entre as propostas está, por exemplo, a utilização de tarifas de importação que protejam temporariamente setores de inovação tecnológica ¿ o que ajudaria a tornar os produtos desses países mais competitivos.
O relatório também sugere que a política monetária não seja usada apenas como instrumento de combate à inflação, mas para estimular o investimento. Neste caso, a idéia é que os governos intervenham nos processos de negociação salarial e de preços, deixando espaço para que os bancos centrais se voltem para a promoção do crescimento econômico. Outra sugestão da Unctad é que o câmbio não seja totalmente livre, mas flutuante com intervenções pontuais. O documento quer ainda o controle de capitais de curto prazo.
`As reformas liberais não cumpriram suas promessas¿
A equipe da Unctad ¿ liderada pelo ex-chefe da Organização Mundial do Comércio (OMC), Supachai Panitchpakdi ¿ afirma ainda que as reformas e desregulamentações promovidas nos últimos 25 anos pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) não conseguiram criar crescimento suficiente nem reduzir significativamente a pobreza. A comparação mais evidente é entre América Latina e Sudeste da Ásia: enquanto aqui a desregulamentação financeira provocou crises, as economias de lá alcançaram uma expansão sustentada via regulamentação do crédito e controle de capitais.
¿As reformas liberais realizadas na maioria dos países em desenvolvimento desde o início dos anos 80 não cumpriram as promessas daqueles que as propuseram¿, afirma o texto do ¿Informe sobre Comércio e Desenvolvimento 2006¿.
Segundo a Unctad, a necessidade de adoção de medidas heterodoxas ocorre porque a economia americana, grande motor do crescimento mundial, deve entrar numa fase de desaceleração nos próximos anos.
¿ Continua havendo um dinamismo internacional que permite aos países em desenvolvimento ter um desempenho notável. Mas a trajetória da economia americana começa a preocupar ¿ diz o diretor do escritório da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) no Brasil, Renato Baumann, que divulgou ontem o relatório.
Ele lembrou que, enquanto a economia mundial deve crescer 3,6% este ano, os países emergentes devem ter um aumento de 6,2% do PIB. Mas o déficit público dos EUA e o maior endividamento dos domicílios americanos não devem se sustentar por muito tempo. Por isso, caso economias como o Japão e a Alemanha não comecem a demandar mais importações, a situação dos países emergentes pode se complicar.