Título: FILHO DE FIDEL VISITA O BRASIL E SUGERE QUE SEU PAI PODE NÃO VOLTAR AO PODER
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 01/09/2006, O Mundo, p. 35

Em conversa reservada, Fidelito se mostra tranqüilo com a sucessão

BRASÍLIA. O assessor científico do Conselho de Estado de Cuba, Fidel Castro Díaz-Balart, filho do ditador Fidel Castro, relatou a autoridades brasileiras que a fase crítica da doença do pai já passou e que a expectativa é de que o prazo de recuperação seja de seis meses. Fidelito, como é chamado o filho de Fidel, está no Brasil desde o dia 28 para uma visita oficial para troca de informações científicas. Em rápida passagem por Brasília, ele encontrou-se com o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, e com o presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP). Ontem, ele viajou para Salvador.

Num jantar na Embaixada de Cuba, na noite de quarta-feira, Fidelito reforçou a versão oficial de que o pai teve um sangramento no intestino. Mas, em conversas reservadas, deixou no ar a possibilidade de Fidel Castro não voltar a ocupar o poder, mesmo depois de recuperado da doença. A impressão de autoridades brasileiras é de que a sucessão em Cuba já começou, e que dificilmente Fidel terá o comando de volta. Ele disse de forma clara que não havia previsão para a volta de Fidel ao governo. Segundo o relato de uma autoridade brasileira, é como se Fidel estivesse repassando o poder ainda em vida para evitar problemas futuros na transição cubana.

No jantar, Fidelito fez um brinde desejando sucesso para a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em outubro.

Ao final do jantar, os convidados foram presenteados com charutos cubanos. Parecido com Fidel Castro, o filho causou boa impressão. Demonstrou estar calmo, o que deixou a sensação nos brasileiros de que a transição em Cuba já é um assunto bem resolvido. Nas conversas, ele relatou que já era a terceira vez que visitava o Brasil. No final, todos desejaram a Fidelito uma rápida recuperação do ditador cubano.

Dissidente cubano interrompe greve de fome

Fidel Castro Díaz-Balart nasceu em 1949. Formou-se em física nuclear na antiga União Soviética. Já chefiou o programa de energia atômica de Cuba, e hoje é assessor científico do país. Ele é filho de Mirta Díaz Balart, única mulher de Fidel, que hoje mora em Madri, na Espanha. A visita de Fidelito a Brasília foi marcada pela discrição e pelo pedido da Embaixada de Cuba de evitar qualquer tipo de divulgação. Ele foi recebido em audiência pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo, no início da noite de quarta-feira.

De acordo com autoridades brasileiras, Fidelito agendou a viagem com o objetivo de conhecer o programa nuclear brasileiro. Hoje, estará no Rio.

Em Havana, o dissidente Guillermo Farinas, de 43 anos, decidiu ontem à noite interromper uma greve de fome que realizava há sete meses. Segundo amigos, ele já estava correndo risco de vida e foi ¿convencido a voltar a se alimentar¿. Farinas, que é psicólogo e jornalista, demandava acesso irrestrito à internet, controlada pelo governo.