Título: VIGIA MATOU PARA NÃO PERDER A CONDICIONAL
Autor: Vera Araújo
Fonte: O Globo, 02/09/2006, Rio, p. 29

Monstro da Bambina descreve o crime: `Vi que ela ainda estava respirando. Aí dei outra pedrada com mais força¿

O Monstro da Bambina ¿ como ficou conhecido o vigia Juarez José de Souza, que matou e serrou ao meio o corpo da empresária Edna Tosta Gadelha Souza, na segunda-feira, em Botafogo ¿ afirmou que, após bater com uma pedra na cabeça da vítima, decidiu matá-la porque não queria perder a liberdade condicional. Ele baixa a cabeça e diz estar arrependido, mas não se emociona, não escorre nenhuma lágrima de seu rosto:

¿ Quando dei com a pedra de mármore na cabeça dela e vi sair muito sangue, pensei: acabou minha condicional. Se eu deixar esta mulher sair daqui, vou ficar preso o resto da vida. Tinha que matá-la, achei que ninguém ia saber do que eu fiz. Vi que ela ainda estava respirando. Aí dei outra pedrada com mais força. Agora, estou arrependido.

`Virei um monstro, fui eu que fiz aquilo¿

Se de um lado ele aparenta ser um simplório, que passou a infância num sítio com os pais, em Minas Gerais, onde matava porcos e galinhas, chegando inclusive a trabalhar numa fábrica de linguiças, há momentos em que se trai, manifestando conhecimentos na área jurídica. Resquícios dos oito anos que passou na cadeia, no Presídio Evaristo de Moraes, onde cumpriu parte da condenação de 11 anos e sete meses por dois roubos.

Foi o que ele mostrou ao falar, com exclusividade ao GLOBO, sobre a importância de não perder o direito ao livramento condicional e ao revelar que um funcionário de Edna chegou a procurá-la na veterinária, por volta das 17h, antes de Juarez se livrar do corpo.

¿ Não fiquei com medo de ele descobrir os sacos. O funcionário não podia entrar na clínica. Isso seria invasão de domicílio ¿ disse.

O rótulo de Monstro da Bambina, uma referência à rua de Botafogo onde ocorreu o crime, parece ser a única coisa que perturba Juarez. Ele diz temer ser morto:

¿ Esse monstro não tinha nada a ver comigo. Agora eu sei que realmente virei um monstro. Sou mesmo. Fui eu que fiz aquilo tudo. Agora, tenho que pagar por tudo que fiz. Mas quero viver. O que eu vou fazer na rua? Se eu for para a rua, vou morrer.

O semblante e a voz de Juarez mudam quando ele descreve o que o motivou a matar a empresária. Ele fica agressivo e tenta justificar o crime, manchando a imagem da vítima.

¿ Aquela mulher era arrogante, ignorante. Ela passava na rua com aquele ar de deboche, de superioridade. Não valia nada. Ninguém da rua gostava dela ¿ disse ele, fazendo caretas ao descrevê-la.

Assassino diz que foi humilhado

Segundo ele, o fato de ela chamá-lo de ruço magricelo e a forma de olhá-lo fizeram com que se sentisse humilhado. Ele contou que tudo começou quando ela tentou estacionar o carro em frente à clínica onde trabalhava como vigia:

¿ O meu patrão sempre dizia que, se alguém parasse na vaga dos clientes, era para chamar a CET-Rio. Eu falei para ela que obedecia ordens e, se ela parasse o carro ali, ou chamava o reboque ou furava os quatro pneus dela. Ela que escolhesse. Daí, ela me xingou e à minha mãe.

Para sobreviver na prisão, Juarez passou a manter o corpo com exercícios de musculação. Ser chamado de magricelo fez com que ele resgatasse a lembrança de fragilidade, quando apanhava dos meninos da vizinhança em Minas Gerais. Ele contou que, depois de matar, ensacou o cadáver, para só depois, sem ver seu rosto, dividi-la ao meio.

¿ Ficava mais fácil para me livrar do corpo. Ela pesava, mais ou menos, 55 quilos. Eu dividi o peso ¿ descreveu friamente.

Para Juarez, ¿havia uma força estranha¿ no dia do crime. Edna ligou para ele porque queria alugar a clínica para a filha:

¿ Eu falei para ela combinar com o proprietário, mas ela insistiu para vir naquele dia. Não sei o que deu em mim. Fui dominado pelo demônio.