Título: Cartão de celular pré-pago foi principal pista
Autor: Ricardo Galhardo, Flávio Freire e Chico de Oliveir
Fonte: O Globo, 02/09/2006, O País, p. 8

Primeiro preso participou do assalto ao BC de Fortaleza e vinha financiando grandes quadrilhas no Sul do país

SÃO PAULO e PORTO ALEGRE. A Polícia Federal chegou à quadrilha por meio de um cartão de telefone celular pré-pago encontrado na casa usada pelos bandidos que assaltaram o cofre-forte do Banco Central de Fortaleza, em agosto do ano passado. O cartão foi inutilizado e a numeração raspada com um prego, mas mesmo assim o setor de inteligência da PF conseguiu identificar o número do aparelho, através do qual descobriu outros telefones de integrantes da quadrilha.

Dos R$164,8 milhões roubados em 2005, apenas R$18 milhões foram recuperados até hoje. De acordo com fontes da PF, a maior parte do dinheiro foi investida em imóveis e empresas em vários estados. Parte do dinheiro, inclusive, foi usada na compra do prédio de Porto Alegre a partir do qual os bandidos cavavam o túnel para o Banrisul e a CEF. O túnel partia de um prédio no centro financeiro da capital gaúcha comprado há três meses pela quadrilha, por R$1,2 milhão. Automóveis e dinheiro foram apreendidos ontem, mas a PF não deu detalhes sobre o material.

No total foram expedidos 40 mandados de prisão pela 11ª Vara Criminal Federal de Fortaleza, para onde os presos deverão ser encaminhados nos próximos dias. Mais de cem policiais federais participaram da Operação Facção Toupeira em dez estados.

João das Couves, o primeiro preso

A ação no Rio Grande do Sul foi iniciada a partir da prisão de João Adão Ramos, o João das Couves, que participou do assalto ao BC e vinha financiando grandes quadrilhas que operavam no Sul do país com recursos do assalto. João das Couves era o braço direito de José Carlos dos Santos, o Seco, que chefiava uma quadrilha especializada em ataques a carros-fortes no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Por coincidência, foi preso alguns dias depois de João das Couves. No entanto, enquanto João das Couves foi preso em 6 de abril pela Polícia Federal em São Leopoldo, na Grande Porto Alegre, com armamento pesado e munições prontas para serem utilizadas em assaltos, Seco foi detido pela Polícia Civil próximo à cidade de Lajeado, em 13 de abril, a cerca de cem quilômetros da capital. Os dois continuam detidos.

Mallmann explicou por que a operação foi realizada ontem:

¿ Foi uma oportunidade de pegar todo o bando junto. Eles se movimentavam muito, iam e vinham entre Porto Alegre e São Paulo. Como nesta sexta-feira estavam todos no local e também queríamos evitar que terminassem por chegar ao cofre do banco, decidimos que era o momento de agir ¿ explicou ontem.

O prédio teria sido pago com parte dos R$165 milhões roubados em Fortaleza no ano passado. O imóvel foi comprado por Fabrisio Oliveira Santos, o Boy, que também é suspeito de participação no assalto ao BC, e que está entre os oito presos ontem em São Paulo. Entre os presos está ainda Lucivaldo Laurindo, o Tatuzão, apontado como mentor do assalto ao BC de Fortaleza. O irmão de Tatuzão, Geovan Laurindo da Costa, foi detido em São Paulo. Segundo a PF ele é um ¿torre¿, líder no jargão da criminalidade, da facção criminosa que aterrorizou São Paulo.

Outras três pessoas da família, Lucilane e Veriano Laurindo da Costa e Raimundo Laurindo Barbosa Neto, também foram detidas. Neto foi preso no interior do Piauí.