Título: ECONOMISTAS: SEM INVESTIMENTO, PAÍS NÃO CRESCE
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 02/09/2006, Economia, p. 41

Redução da taxa de juros e câmbio menos valorizado também são necessários para PIB superar os 3% anuais

SÃO PAULO. O fraco desempenho da economia no primeiro semestre reforçou entre economistas a defesa de uma política pró-investimentos, com redução mais acentuada das taxas de juros e da carga tributária, além de medidas que possam minimizar a valorização do real frente ao dólar. Sem isso, a avaliação geral é de que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas produzido no país) brasileiro continuará aquém de um crescimento anual superior a 3% ¿ já bem abaixo dos demais emergentes.

¿ Precisamos de uma política ativista, pró-investimento. Sair desse gradualismo a passo de cágado e adotar o que o Simonsen (o ex-ministro Mario Henrique Simonsen) chamava de ¿gradualismo chocante¿ ¿ afirma o economista Paulo Nogueira Batista, professor da FGV.

Para HSBC, é preciso elevar taxa de investimentos

Preso a um cenário de volatilidade nas últimas duas décadas, o país não consegue gerar maior volume de investimentos (públicos e privados) para alavancar o PIB. Relatório do economista Alexandre Bassoli, do HSBC, estima que a taxa de formação bruta de capital fixo passe este ano de 18% para 19%. Com um índice desses, avalia ele, o crescimento potencial do país ficará entre 2,5% e 3%.

¿O que é possível afirmar com razoável segurança é que, para deslocar o PIB potencial para o intervalo entre 3,5% e 4%, precisaríamos elevar a taxa de formação bruta em 4 a 6 pontos percentuais do PIB,¿ afirma Bassoli.

Paulo Nogueira não vê condições de romper o padrão que marcou o crescimento do PIB nos últimos 25 anos sem uma ¿reorientação das políticas macroeconômicas¿. Segundo ele, o ponto inicial seria a aceleração do corte da Selic. O economista considera factível que a taxa nominal saia dos atuais 14,25% para cerca de 7% no período de 12 a 16 meses.

Diretor do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica da Unicamp, o economista Ricardo Carneiro também vê o corte dos juros como medida necessária para deslanchar o PIB. Ele acredita que a medida poderia corrigir, em parte, a forte valorização do real frente ao dólar ¿ que tem tirado a produtividade das exportações e levado alguns setores a substituir produção local por compra de importados.

¿ O que defendo é uma política virtuosa, com menores juros e menor pressão sobre o câmbio. Com isso, o governo conseguiria liberar mais recursos para investimentos em infra-estrutura ¿ afirma.

Consultoria aponta falta de garantias para contratos

Com base na experiência de outros países, Carneiro defende maior intervenção pública nos investimentos. Segundo ele, o crescimento acelerado da economia de alguns países asiáticos foi estimulado por investimentos do governo, que chegavam a um terço do total. Isso, afirma, seria ainda mais verdadeiro no caso do Brasil, cujo estrutura produtiva está voltada para bens com baixo valor tecnológico:

¿ O que os dados do IBGE mostram é que as exportações, fonte do crescimento do PIB nos últimos meses, já começam a desacelerar. O país não pode viver só ligado a fatores conjunturais.

A questão da falta de infra-estrutura é uma preocupação da economista Tereza Fernandez, sócia-diretora da MB Associados, consultoria do ex-secretário de Política Econômica José Roberto Mendonça de Barros. Mas ela cobra maiores garantias de regras para o aumento dos investimentos privados, afirmando que, hoje, não há certeza de que os contratos serão alterados. Tereza projeta um PIB de 3% para este ano e abaixo desse patamar para 2007.