Título: LULA, SOBRE VOLKS: `NO MUNDO DO TRABALHO É ASSIM¿
Autor: Cristiane Jungblut e Lino Rodrigues
Fonte: O Globo, 02/09/2006, Economia, p. 45

Presidente diz que não se pode `fazer um cavalo de batalha¿ das demissões na montadora e que o problema é isolado

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Ex-sindicalista da região do ABC paulista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem ¿ ao lado de dirigentes da Fiat e referindo-se ao caso da Volkswagen ¿ que é normal uma empresa demitir funcionários quando está produzindo pouco e que não se deve fazer ¿um cavalo de batalha¿ por isso. No entanto, o presidente criticou a montadora alemã, afirmando que sua situação delicada deve-se ao fracasso no desenvolvimento de projetos. A empresa passa por uma reestruturação mundial.

Lula disse que o caso da Volks, que demitiu 1.800 funcionários e que ameaça colocar mais 21 mil em férias coletivas, não reflete o bom momento do setor. Para Lula, o caminho para contornar situações adversas é o Brasil crescer, gerar opções de atividades econômicas e mais oportunidades de emprego.

¿ Lamento profundamente que uma empresa como a Volkswagen esteja dispensando trabalhadores. E está dispensando trabalhadores porque teve um projeto que não deu certo. E, no mundo do trabalho, é assim: quando a empresa está produzindo mais, ela contrata mais; quando ela está produzindo menos, ela descontrata as pessoas. Sempre foi assim e sempre será ¿ disse Lula. ¿ O que não podemos é fazer disso um cavalo de batalha.

O presidente disse, porém, que o governo pretende manter contato com a Volks:

¿ Vamos ver se ainda conversaremos com a Volkswagen e se fazemos a Volkswagen, quem sabe, ter um produto que possa conquistar o mercado brasileiro e contratar mais trabalhadores do que ela demitiu.

Trabalhadores podem mudar estratégia da greve na Volks

No início da tarde, Lula participou de cerimônia de apresentação de dois modelos da Fiat, um que funciona com quatro tipos de combustível e outro elétrico. Primeiro, o presidente testou um Palio Elétrico, que tem 100% de energia limpa e é uma parceria embrionária entre a Fiat e Itaipu Binacional e não tem data para ser comercializado. Lula também experimentou um Siena 1.4 tetracombustível (álcool, gasolina brasileira, que tem adição de 20% de álcool, gasolina pura e gás natural veicular), que está pronto para ser comercializado. Lula fez um paralelo da Volks com a Fiat:

¿ Em compensação, a Fiat vem aqui e, além de anunciar dois carros que está estudando profundamente, me dá a alegria de dizer que está contratando funcionários, numa demonstração de que o problema não é do setor automobilístico. O problema é da Volkswagen ¿ disse.

Com a greve chegando hoje a seu quinto dia, funcionários da Volkswagen em São Bernardo do Campo marcaram para segunda-feira nova assembléia para avaliar o movimento. Os sindicalistas podem propor trocar a greve geral na unidade por paralisações isoladas em áreas chaves da produção de veículos e peças. A tática, dizem os metalúrgicos, já foi usada em outras greves e tem como objetivo ¿embaralhar¿ a produção. Na área de pinturas, por exemplo, se houver uma parada de duas horas, a montagem final de um veículo atrasa cerca de seis horas.

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC informou ontem que a paralisação na fábrica da Volks no ABC já causa problemas na produção das demais unidades da montadora no país.

Fábricas interromperam produção de veículos

Nas plantas de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (PR), e na de Taubaté (interior paulista), os trabalhadores tiveram que interromper a fabricação de veículos por falta de peças.

Enquanto não sai uma definição para o impasse, os empregados de São Bernardo mantêm a estratégia adotada desde a última terça-feira: entram na fábrica, mas ficam de braços cruzados. Em vez do trabalho, jogos animados de truco e dominó.

Ontem cerca de cem militantes ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT), à Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), à Força Sindical e a sindicatos paulistas de várias categorias promoveram uma passeata pelos calçadões centrais de São Paulo. A caminhada fez parte das manifestações pelo dia nacional de mobilização da classe trabalhadora em apoio à reeleição de Lula, realizadas em 13 capitais brasileiras ontem.

COLABORARAM: Luiza Damé e Adauri Antunes Barbosa