Título: IMIGRAÇÃO FAZ ESPANHA PEDIR SOCORRO À EUROPA
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Fonte: O Globo, 02/09/2006, O Mundo, p. 48
Ilhas Canárias receberam mais de mil africanos em barcos nos últimos dias; três morreram ontem na travessia
MADRI. A imigração voltou ao centro dos debates ontem nos países europeus, com a divulgação de que mais de mil imigrantes, oriundos do oeste da África, chegaram às Ilhas Canárias, na Espanha, nos últimos dias, elevando para quase 20 mil a cifra somente em 2006 ¿ número cinco vezes maior do que o de 2005. A crescente onda de imigração preocupa as autoridades espanholas e européias com a mesma intensidade que as agências humanitárias, já que, somente ontem, três imigrantes (um menor de idade) morreram e 83 foram resgatados depois que seus barcos, conhecidos como cayucos, afundaram entre a África e a Espanha.
Os novos dados divulgados ontem pelo governo socialista da Espanha fez com que ele reforçasse o pedido de socorro aos demais países da União Européia (UE), na tentativa de conter o fluxo de pessoas.
Espanha: UE precisa ter política comum
A maioria dos imigrantes chega nas ilhas de Tenerife e Fuerteventura, as maiores do arquipélago e mais próximas do continente africano ¿ a cerca de cem quilômetros de distância da Mauritânia que, junto com o Senegal, é o país de maior êxodo para as Canárias.
¿ É óbvio que muitos integrantes da UE não enxergam a dimensão do problema pelo qual passa a Espanha, que está à beira de um desastre humanitário, já que mantém milhares de africanos em centros de detenção de imigrantes ¿ disse a vice-primeira-ministra espanhola, María Teresa Fernández de la Vega, que convocou ontem integrantes de governo de países banhados pelo Mar Mediterrâneo, como França, Itália, Portugal, Grécia, Chipre, Malta e Eslovênia, para participarem de uma cúpula sobre imigração em Madri, no fim de setembro.
¿ A idéia é discutir controle de imigração, questões como patrulhamento, vigilância, salvamento, identificação, documentação, retorno e como repatriar essas pessoas. Não existe uma política comum da UE sobre imigração, e ela é mais do que necessária agora ¿ disse ela.
A oposição espanhola acusa o governo de ter ¿perdido o controle da questão¿. Os críticos apontam que, além dos altos custos para o bolso espanhol, muitas cidades, como Madri e Barcelona, encontram-se hoje lotadas de africanos pobres e desabrigados, que contribuem para o aumento da criminalidade. Em 2005, o governo concedeu uma anistia de três meses aos imigrantes ilegais, dando-lhes chances de se legalizarem, adquirindo documentos, direitos e obrigações, como o pagamento de impostos. Cerca de 600 mil pessoas foram beneficiadas com a medida que, para os críticos, tornou o país mais atraente à imigração.
A anistia irritou também alguns integrantes da União Européia, que alegaram que o bloco deveria ter sido consultado, porque muitas vezes ¿os imigrantes deslocam-se a outros países¿, como criticou Franco Frattini, vice-presidente da Comissão Européia. A Espanha já devolveu quase 53 mil ilegais aos seus países de origem em vários continentes. De la Vega disse que é fundamental manter o diálogo.
¿ Não podemos esperar que o número retroceda se não fizermos nada para combater a pobreza nos países da África ¿ completou o ministro do Interior espanhol, Alfredo Perez Rubalcaba.