Título: FALTA DE RECURSOS FAVORECE OS MAIS PODEROSOS E DIFICULTA A RENOVAÇÃO
Autor: Alan Gripp, Gerson Camarotti, Maria Lima
Fonte: O Globo, 03/09/2006, O País, p. 4

Para empresário, candidatos de primeira viagem ficam prejudicados

BRASÍLIA. Se o dinheiro começa a jorrar nos cofres dos candidatos à Presidência que lideram as pesquisas, está escasso na seara dos candidatos proporcionais, que tentam uma vaga na Câmara. Além do endurecimento da legislação para tentar coibir o caixa dois, os sucessivos escândalos de corrupção envolvendo parlamentares deixaram os empresários ressabiados na hora de contribuir. Para alguns empresários e parlamentares, a dificuldade de arrecadação pode dificultar a renovação do Congresso, facilitando a eleição de candidatos ricos ou representantes de setores poderosos.

O presidente da Câmara Brasileira da Construção Civil, Paulo Safadi Simão, prevê que, por falta de recursos, muitos candidatos de primeira viagem desistirão de suas candidaturas até a metade de setembro.

¿ A falta de disposição dos empresários em financiar candidaturas proporcionais terá uma influência muito grande no resultado das eleições. E com a falta de recursos, aqueles que já são conhecidos e mais poderosos levam franca vantagem ¿ avalia o empresário.

Safadi diz que, na hora de contribuir, os empresários levam em conta o desgaste na imagem do Congresso. Para ele, a iniciativa privada também está fugindo das novas regras eleitorais, que endureceram a fiscalização das contas de campanha.

¿ As regras são corretas, mas tem afastado muita gente que não quer ver seu nome envolvido com campanha ¿ conclui.

Escândalos e denúncias afastaram os empresários

Detentor de vários mandatos, o líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE), diz que a onda de denúncias e escândalos envolvendo parlamentares amedrontaram os empresários que no passado contribuíam religiosamente.

¿ A campanha está dificílima. Com o aperto da legislação, muitos empresários não querem se identificar como doadores, com medo de ficarem carimbados. Caiu muito a arrecadação ¿ reclama José Múcio.

O deputado petista Paulo Delgado (MG) é um dos que não tiveram qualquer envolvimento com o mensalão no PT e diz que está conseguindo captar recursos para saldar suas despesas de campanha. Mas ele conta que vários companheiros seus estão reclamando da penúria.

¿ O problema é que a maioria dos candidatos a deputado não sabe fazer campanha sem caixa dois. E muitos empresários só querem contribuir com caixa dois, mas a legislação não mais permite isso ¿ diz.

No PSOL, as condições são ainda piores. O estatuto do partido não permite doações de banqueiros, multinacionais ou pessoas jurídicas de uma forma geral.

¿ Estamos num outro universo. A penúria de recursos é grande. Já os candidatos ricos ou que são vinculados a setores do mundo empresarial, estão muito bem. Nunca os escândalos e as listas de envolvidos em corrupção ficaram tão evidentes. Quem está de fora e tem campanhas ricas, se beneficia ¿ diz o deputado Chico Alencar (RJ), que aposta em uma renovação pela metade. ¿ Pode ser a renovação de nomes e não de práticas. Vão trocar um picareta velho por um picareta novo.

Além da dificuldade de arrecadação, ele reclama da mercantilização das campanhas.

¿ Com a proibição de outdoor, estão cobrando até para colocar adesivo em carros: R$5 reais por dia. (Alan Gripp e Maria Lima)