Título: DINHEIRO COMEÇA A APARECER E TIRA DA PENÚRIA CAMPANHAS PRESIDENCIAIS
Autor: Alan Gripp, Gerson Camarotti, Maria Lima
Fonte: O Globo, 03/09/2006, O País, p. 4

Valor de doações pode chegar a R$50 milhões na 2ª prestação de contas

Batista e Raquel Miura*

BRASÍLIA. Apesar do discurso quase unânime de que os empresários não estão contribuindo, os principais candidatos à Presidência vão apresentar quarta-feira à Justiça Eleitoral uma arrecadação bem menos modesta do que a divulgada na primeira prestação de contas, no início de agosto. Esse valor, segundo fontes ligadas às campanhas, pode ultrapassar R$50 milhões, quase sete vezes mais do que o que levantado pelos partidos no primeiro mês da corrida eleitoral (R$7,3 milhões).

O aumento na arrecadação foi puxado pelas campanhas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de Geraldo Alckmin (PSDB). Em 6 de agosto, data da primeira prestação de contas, o tucano declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter obtido R$1,3 milhão. Até a noite de sexta-feira passada, essa cifra já havia saltado para R$21 milhões, um aumento de 1.515%. O coordenador da campanha, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), disse que não faltará dinheiro, mas adotou um discurso humilde:

¿ A arrecadação está bem, mas não será uma campanha rica. Com a nossa realidade, a campanha não será forte nos estados. Mas não vai faltar dinheiro ¿ afirmou Guerra.

O PSDB diz ter em caixa pouco mais de R$1 milhão, dinheiro que será gasto em poucos dias. Segundo integrantes do comitê financeiro, os maiores gastos foram com o programa de TV (cerca de R$8 milhões); material impresso (R$4 milhões); e transportes (R$2 milhões, a maioria com as viagens de jatinho).

Liderança irrigou cofre petista

Já o comitê financeiro do presidente Lula mantém em segredo os dados sobre arrecadação que serão apresentados quarta-feira. O tesoureiro da campanha, José de Filippi Júnior, não quis dar informações nem aceitou dar entrevistas. Mas o tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, admitiu que a liderança folgada de Lula nas pesquisas de intenção de voto fez bem aos cofres da campanha.

Segundo ele, até a última semana, o partido já havia investido cerca de R$4 milhões com materiais impressos encomendados a dez gráficas diferentes; R$8,2 milhões com o programa de TV; e 2,5 milhões com a contratação de pesquisas eleitorais a dois institutos. A esses gastos, de quase R$15 milhões, serão somados ainda as despesas de viagens de Lula, como candidato, a 16 cidades. Em agosto, a arrecadação total de Lula foi de R$5,8 milhões.

¿ Em média, temos conseguido manter o pagamento da maior parte dos contratos em dia ¿ disse Ferreira. ¿ A campanha não assumiu compromisso que não possa pagar.

O candidato do PDT, Cristovam Buarque, melhorou muito sua arrecadação, apesar de oscilar em torno de 1% nas pesquisas. Na segunda prestação de contas, seu comitê vai declarar doações de R$950 mil ¿ 533% a mais do que na primeira prestação de contas (R$150 mil).

A exceção é a candidata do PSOL, Heloísa Helena, que diz não aceitar doações de empresário. Segundo o coordenador da campanha, Martiniano Cavalcante, em agosto o comitê arrecadou cerca de R$70 mil, menos do que o declarado na primeira prestação de contas (R$85 mil). Do total, R$25 mil foram de contribuições dos parlamentares do partido, e o restante de simpatizantes da candidata.

(*) Especial para O GLOBO