Título: Mais seis projetos de moeda social devem ser implantados ainda este ano
Autor: Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 03/09/2006, Economia, p. 40

Experiência pode ser estendida num eventual segundo mandato de Lula

lado, dona Maria Nilza Rufino, 42, moradora da periferia de Fortaleza, paga sua contas com palmas

BRASÍLIA e FORTALEZA. Com os bons resultados conseguidos pelos bancos comunitários e moedas sociais existentes, o Ministério do Trabalho já tem no forno outros seis projetos semelhantes, que devem sair do papel até o fim deste ano. São localidades pobres em municípios das regiões Nordeste e Centro-Oeste, cuja população já tem alguma experiência de ¿comunidade¿, ou seja, de organização e participação ativa. E a idéia é estender as experiências para todos os estados do país em um eventual segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Assim, será possível construir uma rede nacional de bancos com esses perfil e garantir a troca de experiências e de metodologias, explica o diretor da Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, Dione Manetti.

¿ Estamos tentando dar prioridade aos municípios que tenham algum embrião de sociedade ¿ afirma Manetti, acrescentando que sua pasta já investiu R$300 mil em outros projetos semelhantes e que já existem.

Bolsa Família pode ser transferida para outros

Conta ainda para o governo, como critério para receber o apoio para a criação de bancos comunitários, o fato de a localidade ter grande parte da população recebendo o Bolsa Família, que entrega de R$15 a R$95 por mês para famílias carentes, que têm de manter seus filhos na escola e vacinados. Manetti explica que, ao ajudar as comunidades a garantir sua própria renda, o benefício pode ser transferido para outras sociedades.

¿ Os bancos comunitários são a porta concreta para melhorar a renda dessas populações ¿ avalia ele.

Os novos projetos, ainda sem nomes definidos, estão sendo preparados nas cidades de Maracanau, Irauçuba e Beberibe, no Ceará, além de Dourados (MS), João Pessoa (PB) e Alcântara (MA). Esta última, destaca o diretor, tem especial atenção por ser formada por uma população quilombola que, historicamente, já tem forte relação com aquele território. Um dos objetivos desses programas, acrescenta ele, é evitar a migração das pessoas para fugir da pobreza.

¿ Há diversas atividades produtivas lá, mas não avançaram por falta de políticas públicas ¿ diz ele.

O desafio agora, explica Manetti, é conseguir o apoio das prefeituras dessas localidades, para conseguir infra-estrutura básica, como móveis para a construção dos bancos comunitários e material de escritório.

Além disso, o governo também tenta garantir o capital inicial desses bancos, a fim garantir linhas de crédito, e cita como exemplo o Banco Popular do Brasil que, segundo ele, já chegou a injetar recursos no pioneiro Banco Palmas, da comunidade de Palmeira, em Fortaleza (CE). E nem é preciso tanto dinheiro assim:

¿ O aporte de capital inicial é de R$20 mil a R$30 mil ¿ diz ele, acrescentando que a iniciativa privada também tem mostrado algum interesse nessas ações.

A empresária Francisca Chagas, conhecida como Chaguinha, diz que só conseguiu uma linha de crédito com o Banco Palmas. Em outros bancos, afirma ela, a exigência era grande, como documentos e garantias. Com isso, ela conseguiu abrir uma pequena churrascaria e uma loja de roupas em Palmeira e emprega três pessoas. Hoje, tem um empréstimo de R$2,5 mil, investidos no seu restaurante:

¿ O Banco Palmas foi a melhor coisa que aconteceu para nós.

Experiências de sucesso e geração de renda

As experiências de sucesso de geração e distribuição de renda por meio dos bancos comunitários e das moedas sociais, avalia o diretor da secretaria de Economia Solidária, não têm o objetivo de criar economias paralelas fechadas, reconhecendo que o ideal seria inseri-las definitivamente no sistema financeiro nacional. Ele argumenta, no entanto, que a atual situação econômica mundial é um impeditivo neste momento, pela falta de preocupações e ações de cunho sociais.

¿ Não há sinalização, como a economia está organizada hoje no mundo, de mudança. Por isso, buscamos a autogestão agora ¿ defende ele.