Título: ARSENAL CONFISCADO NA FRONTEIRA
Autor: Paulo Yafusso
Fonte: O Globo, 05/09/2006, O País, p. 3
Operação das polícias do Brasil e do Paraguai apreende armas de quadrilhas brasileiras
Numa das maiores apreensões dos últimos anos, a polícia do Paraguai confiscou na tarde do último sábado um arsenal avaliado em US$1,2 milhão. Foram encontradas quase 600 armas, entre escopetas, metralhadoras, além de carregadores de fuzis e seis mil cartuchos de munições, que seriam usados pela quadrilha de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, um dos maiores traficantes brasileiros, preso na penitenciária federal de Catanduvas (PR).
As armas e munições estavam escondidas dentro de um poço em uma casa em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com Ponta Porã (MS), onde, segundo a polícia paraguaia, Beira-Mar estaria tentando reorganizar sua quadrilha. Para evitar danos, os traficantes adotaram cuidados especiais: lubrificaram todas as armas, que foram em seguida embaladas em sacos de polietileno.
Piloto de Beira-Mar é um dos presos
Comandada pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Paraguai, a investigação do caso teve a participação da Polícia Federal brasileira. A apreensão das armas só foi possível depois da prisão, na sexta-feira, de dois acusados de integrar a quadrilha de Fernandinho Beira-Mar. José Vilanova Cavalcante, conhecido como Bito Cavalcante, que seria piloto da quadrilha, e Jonathan Gimenez estavam em um hotel em Pedro Juan Caballero.
Segundo Sixto Marin, agente da Senad, o arsenal encontrado no poço está em nome do brasileiro Alberto Dornelles Rodrigues, dono da loja Comando, localizada também em Pedro Juan Caballero. Rodrigues está detido desde 25 de agosto em Ponta Porã, sob suspeita de fornecer armas contrabandeadas tanto para a quadrilha de Fernandinho Beira-Mar como para a facção criminosa que comanda os atentados no Estado de São Paulo. O nome de Rodrigues consta na agenda do traficante brasileiro, apreendida em 2001, quando Beira-Mar foi preso na Colômbia.
A operação do fim de semana foi a primeira grande ofensiva da Senad desde a inauguração de sua sede em Pedro Juan Caballero, no último dia 22. A obra, que custou US$448 mil, foi financiada pelos Estados Unidos, e faz parte de um acordo dos governos dos dois países para o combate às organizações criminosas na região.
Colaboração com a PF brasileira
Também existe grande colaboração com a Polícia Federal do Brasil. A troca de informações entre policiais brasileiros e paraguaios foi reforçada pela ida de policiais federais de Mato Grosso do Sul, entre eles o superintendente Delci Teixeira, até o Paraguai. Teixeira já atuou na região de fronteira com o Paraguai e, quando foi para o Rio, levou junto oito policiais de sua confiança.
Há cerca de quatro meses, a Senad, com o apoio da Polícia Federal do Rio de Janeiro, vem trabalhando para desarticular as organizações criminosas que atuam na fronteira com o Brasil. No mês passado, os policiais paraguaios fizeram várias operações e em uma delas foi apreendida grande quantidade de armas que pertenceria a Marcelo da Silva Leandro, o Marcelinho Niterói, braço direito de Beira-Mar no Paraguai. Ele foi preso no Paraguai e expulso para o Brasil, mas foi libertado pela Polícia Federal de Ponta Porã, já que no Brasil não há mandado de prisão contra ele.
No dia 11 de agosto, em outra operação, a Senad apreendeu em Pedro Juan Caballero mais de 230 armas e 120 carregadores para metralhadoras. O material estava numa camionete com placas de São Paulo.
ALIADO DE BEIRA-MAR É PRESO DEBAIXO DE UMA CAMA NO MORRO DA MANGUEIRA, na página 19