Título: VOLKS RECUA E EMPREGADOS VOLTAM AO TRABALHO
Autor: karina Lignelli
Fonte: O Globo, 05/09/2006, Economia, p. 23

Empresa anuncia disposição de suspender 1.800 demissões, para retomar negociações sobre plano de reestruturação

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Os trabalhadores da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, decidiram ontem voltar ao trabalho, depois que a montadora anunciou a disposição de suspender as 1.800 demissões anunciadas na semana passada, para retomar as negociações em torno de seu plano de reestruturação.

Em assembléia, os metalúrgicos também decidiram não fazer horas extras no feriado de 7 de Setembro. A intenção é evitar que os estoques se normalizem até o fim das negociações, que devem se estender até a próxima terça-feira. Com a paralisação, só no ABC, 3.400 veículos deixaram de ser produzidos.

Os empregados estavam de braços cruzados desde terça-feira passada, após cinco dias de negociações fracassadas.

A trégua na disputa foi proposta durante reunião entre dirigentes da montadora e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Apesar da disposição de retomar as negociações, nenhuma das partes sinalizava a intenção de abrir mão de suas posições.

¿A Volks reafirma a necessidade de adequar seu quadro em 3.600 pessoas nos próximos anos, porém está aberta para discutir as condições para sua realização¿, disse, em comunicado, o gerente de Relações Trabalhistas da Volks, Nilton Junior. ¿Sem isso, o futuro da fábrica de Anchieta está em risco¿.

O presidente do Sindicato do ABC, José Lopez Feijóo, afirmou que espera as propostas da montadora, desde que não contemplem exclusivamente as demissões:

¿ Espero que a fábrica negocie para valer e não repita o que cansamos de rejeitar. Ou encaminharemos a luta com força total.

Trabalhadores que receberam a carta de demissão não concordaram com a volta ao trabalho. O reparador de veículos José Mendes, com 28 anos de Volks, disse que não confia mais na fábrica:

¿ A Volks pediu uma trégua para pôr a casa em dia. Eu me sinto injustiçado. Depois de ajudar a fábrica a crescer, é isso o que ganho.

Reginaldo Gomes, da mesma área, endossou a reclamação:

¿ Mesmo trabalhando direito por 25 anos, é a segunda vez que recebo essa carta de demissão. Tenho vergonha de olhar para o pessoal em casa. Parece que a fábrica erra e a culpa é minha.

Marinho defende prorrogação de acordo

Manifestações previstas para amanhã nas portas das concessionárias Volks foram suspensas. A empresa informou que as férias coletivas, de 18 a 28 deste mês, programadas para Taubaté (SP), São José dos Pinhais (Paraná) e São Carlos (SP) estão mantidas.

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que a saída para a crise seria a continuidade do acordo fechado em 2002, que garantiu que não haveria demissões em massa na empresa por cinco anos. Marinho argumentou que a montadora, apesar dessa limitação, não teria sofrido problemas financeiros.

¿ Essa reestruturação deve ter continuidade de forma gradual ¿ afirmou o ministro.

(*) Do ¿Diário de S.Paulo¿. COLABOROU Patrícia Duarte

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