Título: MÉXICO DEVE CONHECER PRESIDENTE HOJE
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Fonte: O Globo, 05/09/2006, O Mundo, p. 28
Corte provavelmente reconhecerá vitória de Calderón. Oposição vai resistir
CIDADE DO MÉXICO. Os mexicanos devem conhecer hoje o vencedor das eleições presidenciais de 2 de julho, após semanas de acusações de fraude eleitoral, desafio ao governo de Vicente Fox e manifestações que paralisaram a capital. O Tribunal Eleitoral emitirá hoje seu parecer final e é quase certo que confirme a vitória do candidato conservador Felipe Calderón, do partido do governo. O anúncio vem cercado de tensão, pois a esquerda, que apóia Andrés Manuel López Obrador, já anunciou que não aceitará a vitória de Calderón.
Os sete juízes do Tribunal Eleitoral se reúnem hoje às 8h (hora local) para decidirem se ratificam a vantagem de Calderón ou se aceitam as denúncias de López Obrador, que perdeu por menos de um ponto percentual. A decisão é inapelável.
López Obrador alegara fraude generalizada, mas os juízes rejeitaram essas acusações na semana passada. O candidato acusa ainda o governo de apoiar financeiramente o adversário e diz que empresários teriam violado regras de financiamento ao apoiarem o conservador. Os juízes devem determinar se todo o processo foi transparente antes de darem seu voto final e anunciar o vencedor. Se a corte aceitar os argumentos de López Obrador, pode anular a eleição. Mas analistas políticos consideram o anúncio de vitória de Calderón, do Partido Ação Nacional (PAN), mera formalidade após a decisão da semana passada.
Ruben Aguilar, porta-voz do presidente Vicente Fox, estava tão confiante que declarou que Calderón tomará posse no dia 1º de dezembro, para um mandato de seis anos:
¿ Nada pode deter isto porque foi a decisão do povo.
Há mais de um mês, López Obrador e o seu Partido da Revolução Democrática (PRD) vêm organizando manifestações nos principais pontos da Cidade do México, em protesto contra os resultados.
Fox descarta uso do Exército contra manifestantes
A vitória de Calderón, educado em Harvard, seria uma boa notícia para os Estados Unidos, após uma série de vitórias de candidatos de esquerda na América Latina. Mas ela não significaria o fim dos protestos. López Obrador, que foi prefeito da capital, já convocou uma grande manifestação para o dia 16 de setembro, data da independência do país, e planeja implantar um governo paralelo caso sua derrota seja confirmada.
¿ Estamos lutando por mudanças profundas porque é isso o que o México precisa ¿ disse, no domingo.
Não está claro como ele pretende levar adiante o governo paralelo e seu apoio público parece estar diminuindo. O PRD descarta ainda negociações com um governo Calderón.
O protesto de parlamentares de esquerda impediu que Fox fizesse seu último pronunciamento anual no Congresso, na sexta-feira. O presidente foi obrigado a voltar para sua residência, fazendo mais tarde um discurso pela TV.
Fox afirmou ontem que não utilizará o Exército para reprimir manifestantes, numa alusão aos temores demonstrados por López Obrador, e pediu união nacional diante do momento delicado que o país atravessa.
¿ A democracia não permitiu nem deve permitir que se utilize o Exército contra o povo ¿ disse, numa cerimônia militar. ¿ Agora é o momento de união em torno dos valores que nos deram a pátria, as instituições, para alcançarmos os desejos de democracia, justiça e bem-estar.