Título: VEDOIN COMPLICA MALTA E SUASSUNA
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 06/09/2006, O País, p. 8

Em depoimento no Senado sócios da Planam confirmam as denúncias

BRASÍLIA. No primeiro dia de depoimentos no Conselho de Ética do Senado, os sócios da Planam, Darci e Luiz Antonio Vedoin, confirmaram as denúncias contra os senadores Ney Suassuna (PMDB-PB), Magno Malta (PL-ES) e Serys Slhessarenko (PT-MT). Os depoimentos foram a portas fechadas. Quem ouviu, saiu dizendo que, a julgar pelo teor das afirmações dos depoentes, a situação de Malta e Suassuna tornou-se mais complicada.

Os relatores dos processos contra os três acusados de quebra de decoro parlamentar, porém, foram cautelosos, afirmando que é preciso ouvir mais testemunhas e procurar provas, antes de proferir suas decisões.

O senador Demóstenes Torres (PFL-GO), responsável pela investigação envolvendo Magno Malta, disse que Darci Vedoin revelou em seu depoimento que se reuniu com Malta quando este era deputado federal, em 2002. Segundo Demóstenes, Vedoin revelou que se encontrou com o senador do Espírito Santo num restaurante, acompanhado do deputado Lino Rossi (PP-MT), acusado de procurar parlamentares interessados em apresentar emendas em favor da máfia dos sanguessugas.

Até então, Malta vinha repetindo, em entrevistas e discursos na tribuna do Senado, que não conhecia os Vedoin. O senador é acusado de utilizar um carro de empresa ligada à Planam, que lhe teria sido ofertado por Lino Rossi. Ele negou que tivesse conhecimento de que o veículo fizesse parte de um acerto entre os Vedoin e o deputado.

- Eles afirmaram que não se encontraram com Malta enquanto senador, mas sim quando ele era deputado - afirmou Demóstenes, relatando que Darci Vedoin ressalvou que o suposto encontro teria sido "apenas para conhecimento" e não para "tratativas de negócios".

Advogado de Malta contesta informações

O advogado de Magno Malta, Luiz Carlos Silva Neto, que assistiu aos depoimentos dos Vedoin, contestou as informações dos empresários:

- Darci disse que esteve com Magno Malta para se defender das acusações de que fez uma denúncia infundada contra o parlamentar.

Para Silva Neto, o depoimento de ontem utilizou-se de "uma questão semântica" para acusar o senador:

- Por acaso Magno Malta mudou de cara ou de nome por ter se tornado senador?

Para o líder do PMDB no Senado, Wellington Salgado (MG), porém, Malta merece, no máximo, uma censura por ter utilizado um carro sem saber a procedência.

- O caso do Magno Malta nem deveria estar aí no Conselho - defendeu Salgado.

Relator do processo contra Suassuna, Jefferson Peres (PDT-AM) afirmou que os depoimentos de ontem não acrescentaram fatos novos.

- Eles não apresentaram fatos novos, mas também não desmentiram as acusações - disse Peres, que ouvirá hoje o ex-assessor de Suassuna, Marcelo Cardoso Carvalho, acusado de receber R$222.500.

Suassuna diz que não sabia que seu assessor usava emendas para fazer negócios e exonerou Carvalho. Para Wellington Salgado, "se o assessor confirmar que repassou dinheiro para Suassuna, o senador terá de ser cassado". Porém, o líder disse não acreditar nessa hipótese:

- Conheço Suassuna e ele não precisa disso.

Para o presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), que acompanhou os depoimentos, Darci Vedoin teria dito que seria "impossível o assessor fazer emendas e Suassuna não saber".

- Ele disse que Suassuna sabia de tudo - disse Biscaia.

Quando depôs na Corregedoria do Senado, Marcelo Cardoso Carvalho confirmou que Suassuna tinha conhecimento das emendas. Mas reluta em afirmar que recebeu propina.

No caso da senadora Serys Slhessarenko, os depoimentos trouxeram dúvidas. Segundo Luiz Antonio Vedoin, seu cunhado, Ivo Spínola, teria dado um cheque de R$ 37.200 para o genro da senadora, Paulo Roberto Ribeiro. Darci dizia que o pagamento em dinheiro teria sido de R$35 mil. Paulo Roberto diz que recebeu os recursos como pagamento por equipamentos vendidos à Planam.