Título: TRIBUNAL DÁ VITÓRIA A CALDERÓN
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Fonte: O Globo, 06/09/2006, O Mundo, p. 38

López Obrador, no entanto, não aceita resultado e promete criar governo paralelo

Dando um ponto final numa batalha legal que durou mais de dois meses, o tribunal eleitoral do México decidiu ontem, por unanimidade, que o vencedor das eleições presidenciais de 2 de julho foi Felipe Calderón, do conservador Partido Ação Nacional (PAN). Os sete juízes da corte reconheceram a existência de fraudes dos dois lados e acusaram o presidente, Vicente Fox, de ter ultrapassado seus direitos ao ter apoiado flagrantemente seu candidato, mas nada disso foi considerado suficiente para alterar o resultado das urnas.

A crise política, no entanto, não parece ter data para terminar. A decisão não convenceu o candidato da oposição, Andrés Manuel López Obrador, que continuou afirmando que a decisão foi ilegítima. Ele disse que cumprirá o que prometera e aproveitará uma reunião de sua legenda, o Partido da Revolução Democrática (PRD), em 16 de setembro, para inaugurar um governo paralelo.

Os juízes do Tribunal Eleitoral do Poder Judiciário da Federação divulgaram os resultados finais da eleição. Calderón teve 14.916.927 votos, contra 14.683.096 de Obrador. Uma diferença de 233.831 votos. A decisão é final e não há possibilidade de qualquer apelação ou recurso.

- Esta resolução é a culminação de um processo democrático eleitoral, é o exercício da soberania nacional do povo em forma direta por meio da eleição do presidente do México - disse o presidente da corte, Leonel Castillo.

No texto de 309 páginas, os juízes dão o resultado final da eleição e afirmam que Calderón preenche os requisitos para ser diplomado no dia 1º de dezembro para um mandato de seis anos. Os juízes também acusam Fox de "intervenção indevida" no pleito, mas não considera que ela foi suficiente para influir no resultado.

A coordenadora da campanha de Calderón, Josefina Vázquez Mota, deu como encerrada a polêmica em torno da eleição e pregou a unidade nacional para que o país saia da crise política.

- Felipe Calderón já é hoje (ontem) presidente. Ele tem pela frente a reconciliação e reitera sua vontade e seu compromisso com o diálogo e com os acordos - disse ela, que afirmou que Calderón manteve o convite para conversar com Obrador. - Ele será um presidente para todos.

'Se não há solução, haverá revolução'

A reação inicial da oposição foi não aceitar a determinação da Justiça. Centenas de pessoas acampadas no bairro de Zócalo, na Cidade do México, reagiram com calma ao anúncio do tribunal eleitoral, que foi transmitido ao vivo pela televisão. Obrador foi para o local durante o julgamento e iniciou uma reunião com assessores políticos assim que o resultado foi divulgado.

Minutos depois, seus partidários começaram a gritar "você não está sozinho" e "se não há solução, haverá revolução."

- Acredito que tudo aqui está totalmente manipulado. Creio que quem ganhou foi Obrador. Estou totalmente segura - disse Patricia García, uma enfermeira de 32 anos, que teme a reação do governo. - Vão nos reprimir de novo.

Um grupo foi para a porta da corte, gritando palavrões e dizendo que a decisão judicial era uma continuação de fraude eleitoral. Ovos foram atirados contra o prédio e contra jornalistas que cobriam o evento. Setores do PRD afirmam que uma mobilização popular não permitirá que Calderón tome posse no dia 1º de dezembro.

Os protestos dos partidários de Obrador, no entanto, estão perdendo apoio. Uma pesquisa apontou que 75% dos mexicanos são contra os acampamentos e bloqueios de ruas e estradas, e 63% acham que o governo federal não deveria tolerar as ações.

Vida dedicada ao partido

Depois do empresário Fox, o político Calderón

Felipe de Jesus Calderón Hinojosa, de 44 anos, ao contrário de seu antecessor, Vicente Fox - um bem-sucedido empresário que chegou a ser supervisor da Coca-Cola para a América Latina - é um político que sempre militou no Partido Ação Nacional. A ligação com o conservador PAN, na verdade, vem de berço, uma vez que o presidente eleito é filho de Luis Calderón Vega, um dos fundadores do partido em 1939.

Calderón é formado em direito e tem mestrados em economia e em administração pública. Com toda sua carreira ligada à política, ele foi presidente do movimento jovem do PAN. Elegeu-se deputado estadual pelo estado de Michoacán um vez, tornando-se depois deputado federal. Ele perderia, no entanto, a disputa para o governo desse estado em 1995.

Entre 1996 e 1999 foi o presidente do seu partido. Nesse período, o partido conquistou o governo de 14 dos 31 estados mexicanos, mas perdeu vagas na Câmara dos Deputados, tornando-se a terceira força do país, atrás do então poderoso Partido Revolucionário Institucional (PRI) e do Partido Revolucionário Democrático (PRD).

Depois da eleição de Vicente Fox como presidente, em 2000, Calderón galgou importantes funções no primeiro escalão do governo. Foi o presidente do Banobras, o banco de desenvolvimento mexicano. Depois se tornaria ministro da Energia.

Calderón deixou o governo em 2004 porque Fox reclamou que ele estava fazendo campanha para presidente enquanto era ministro.

Ele é casado com Margarita Zavala e é um católico fervoroso, contrário à eutanásia e ao casamento gay. Defende o livre comércio.