Título: DEPOIMENTOS COMPLICAM SUASSUNA
Autor: Raquel Miura, Ismael Machado e Flávio Freire
Fonte: O Globo, 06/09/2006, O País, p. 4

Assessora da Saúde diz que senador pediu redirecionamento de verba

BRASÍLIA. Três depoimentos no Conselho de Ética do Senado deixaram ainda mais delicada a situação do senador Ney Suassuna (PMDB-PB), acusado de envolvimento com a máfia dos sanguessugas. A principal revelação foi feita pela assessora parlamentar do Ministério da Saúde Marilane Cavalcanti Albuquerque. Ela disse que, no início de 2003, conversou com Suassuna sobre a impossibilidade de redirecionar emendas de um estado para outro, como teria pedido o senador em ofício enviado ao Ministério da Saúde no final de 2002. Ao longo das investigações sobre a máfia dos sanguessugas, Suassuna disse que não assinara o ofício.

O senador dissera também que nunca pedira a mudança do destino do dinheiro reservado à compra de ambulâncias para prefeituras da Paraíba, mas o relato de Marilane derruba esta versão. Segundo ela, em dezembro de 2002, chegou ao ministério ofício com assinatura de Suassuna em que ele pedia a transferência de uma emenda de R$1,6 milhão para o Instituto de Pesquisa e Promoção de Educação e Saúde (Ippes), no Rio.

Assessor também contradisse defesa

Pela emenda original, o dinheiro deveria custear a compra de ambulâncias na Paraíba. No ofício, o autor avisa que o volume de recursos subira para mais de R$3 milhões. Em janeiro de 2003, por telefone, Suassuna teria questionado Marilane sobre a liberação das emendas.

¿ O senador perguntou se as emendas dele tinham sido empenhadas. Eu disse que todas, menos a da compra de ambulâncias por falta de pré-projeto e também porque não poderia haver redirecionamento da verba para uma outra unidade da federação ¿ disse Marilane.

Para o senador Demosthenes Torres (PFL-GO), as declarações da assessora derrubam parte da defesa de Suassuna.

¿ Se ele diz que desconhecia o pedido de redirecionamento da emenda, por quê, então, foi cobrar explicações do ministério? ¿ questionou Demóstenes.

Antes do depoimento de Marilane, o ex-assessor de Suassuna Marcelo Carvalho também contradisse o ex-chefe. Carvalho disse que jamais assinou documento em nome de Suassuna ou de qualquer outra pessoa. Desde o início do escândalo, Suassuna tem transferido a Carvalho toda a responsabilidade por supostas irregularidades na tramitação de suas emendas.

¿ Não assinei documento em nome de outra pessoa ¿ disse Carvalho, segundo um parlamentar do Conselho.

O depoimento do presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), ao Conselho reforçou as suspeitas sobre Suassuna. Biscaia confirmou a íntegra de uma declaração de Suassuna sobre envolvimento de parlamentares com cobrança de propina para apresentação de emendas. A conversa entre Biscaia e Suassuna ocorreu na sala da CPI, no início das investigações:

¿ O senhor não sabia que 90% dos parlamentares tiram uma beirada das emendas? ¿ teria perguntado Suassuna.

Biscaia disse que reagiu:

-¿ Senador, eu desconhecia que 90% dos parlamentares cometem crimes.

Candidato à reeleição, Suassuna é acusado de receber mais de R$240 mil de propina em troca da apresentação de emendas para compra de ambulâncias. O dinheiro teria sido depositado na conta de Carvalho.

O Conselho de Ética promoveu uma acareação entre Ivo Marcelo Spíndola Rosa, genro do empresário Darci Vedoin, e Paulo Roberto Ribeiro, genro da senadora Serys Slhessarenko (PT-MT). Eles mantiveram versões contraditórias sobre os pagamentos feitos pela família de Vedoin. Na terça-feira, os dois serão submetidos a uma acareação com Luiz e Darci Vedoin.