Título: DEMOCRACIA VIRA DEBATE ENTRE PETISTAS E TUCANOS
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 07/09/2006, O País, p. 16

Alckmin diz que petista deu péssimo exemplo: `Não é possível alguém dizer uma barbaridade dessa¿; Berzoini defende Lula

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Ao declarar anteontem, em Caruaru (PE), que ¿democracia não é só coisa limpa¿, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva provocou ontem uma série de protestos da oposição. O primeiro deles partiu do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, que considerou as afirmações de Lula ¿uma barbaridade¿. Mais tarde, no Senado, a oposição se uniu para criticar Lula.

¿ Não é possível alguém dizer uma barbaridade dessa. Quem pensa que democracia não é só coisa limpa, não devia estar na política. É um péssimo exemplo para o país inteiro. É uma falta de convicção em valores, em princípios, falta de apreço pelo espírito republicano ¿ afirmou Alckmin, durante um debate promovido pela Associação dos Magistrados do Brasil (AMB).

Para o candidato tucano, o presidente Lula está tentando confundir a opinião pública ao se colocar como vítima de ataques da oposição:

¿ É possível conciliar política e ética, política e honra. Governo deve e pode ser honesto, um governo que não compactue com a corrupção.

O candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra, discordou da afirmação de Lula.

¿ Temos de ter como meta fazer a democracia cada vez mais limpa e não sujá-la com o argumento de que é sempre assim ¿ disse Serra.

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), saiu em defesa de Lula, dizendo que ele limitou-se a fazer uma constatação da realidade e não uma defesa de condutas políticas que ferem a ética.

¿ O presidente manifestou aquilo que nós já dissemos: que temos de lidar na política com o mundo real. Nas eleições o povo tem a oportunidade de eleger candidatos comprometidos com a democracia, a transparência e a honestidade. O presidente Lula representa isso ¿ disse.

Simon: é possível fazer política com mãos limpas

Da tribuna do Senado, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) disse que não aceita a tese de Lula e de alguns intelectuais ligados a ele, que acreditam não ser possível fazer política com as mãos limpas:

¿ Não aceito a tese de que o Brasil é o país dos corruptos, de que só vai crescer quem se comprometer com a corrupção, de que o Lula, para crescer, tinha que fazer o que fez. Se, em vez de comprar bancada, em vez de gastar fortunas com mensalistas, ele tivesse, com argumentos e ética, chamado a sociedade, ele teria feito as transformações de que o Brasil precisa.

Para o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), Lula está ajudando a propagar a tese de que a corrupção é necessária para o político brasileiro sobreviver.

¿ Os jovens estão ouvindo isso: que ser corrupto é necessário e que, para alcançar seus objetivos, vale a corrupção. Os meus filhos, com razão ¿ os filhos dos homens sérios ¿ estão pedindo para que eu saia da política ¿ disse.

COLABORARAM Ilimar Franco e Marcel Frota, do Diário de S. Paulo