Título: CPI VAI INDICIAR ADVOGADA POR MORTE DE JUIZ
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 07/09/2006, O País, p. 8

Ariane dos Anjos defende o bandido Marcola, chefe de facção criminosa paulista, apontado como mandante do crime

BRASÍLIA. A CPI do Tráfico de Armas vai indiciar a advogada Ariane dos Anjos, que defende desde 2001 Marcos Camacho, o Marcola, um dos líderes da principal facção criminosa que atua nos presídios de São Paulo. Ela é acusada de co-participação no assassinato do juiz-corregedor Antônio Machado José Dias, em março de 2003, em Presidente Prudente. A informação foi dada ontem pelo relator da comissão, Paulo Pimenta (PT-RS), depois do depoimento de Ariane. Marcola já foi apontado como suspeito de ser o mandante do crime.

Na CPI, a advogada deu explicações também sobre uma investigação contra ela por suspeita de falsidade ideológica, e sobre o seu casamento com um agente penitenciário acusado de controlar uma central telefônica clandestina no interior paulista.

Ao tratar do assassinato do juiz, os parlamentares fizeram referência aos registros obtidos pela CPI que mostram que a advogada visitou Marcola no presídio de Avaré, no dia 13 de março, data da morte do juiz, entre 14h e 16h15m.

O magistrado foi morto às 18h30m e, segundo o documento da CPI, às 18h31m Ariane recebeu ligação do celular de Priscila Maria Santos, mulher de um dos líderes da mesma facção criminosa de Marcola e, segundo membros da CPI, responsável pela operação de centrais telefônicas usadas pela quadrilha. Ela negou ter envolvimento com a facção criminosa da qual Marcola é líder, mas disse que não se preocupava com a origem do dinheiro de seus clientes.

¿ Na área criminal, se fôssemos ver por esse ângulo qualquer dinheiro (seria ilícito)... Presto o serviço com dedicação, considero meu dinheiro limpo ¿ disse Ariane, que calcula ter recebido algo em torno de R$50 mil de Marcola em cinco anos.

¿Não me lembro do nome de todos os meus ex-namorados¿

Ela deu explicações ainda sobre o inquérito policial que trata da supostamente falsa declaração com o objetivo de entrar no presídio de Presidente Bernardes, onde estava Marcola. Para a CPI, a advogada queria encontrar-se com ele. Segundo integrantes da CPI, a advogada apresentou uma declaração de que mantinha um relacionamento estável de dois anos com o detento Donizeth Antonio de Oliveira para ter direito a visitas íntimas. Marcola ficava na mesma ala que Donizeth, segundo a CPI. A advogada explicou que não realizou as visitas íntimas porque desistiu do pedido, 15 dias depois de tê-la apresentado, no dia 25 de agosto de 2005. Para evitar as perguntas dos parlamentares, disse não se lembrar do sobrenome de Donizeth:

¿ Não me lembro dos nomes de todos os meus ex-namorados ¿ disse ela.

Ariane teve de dar explicações também sobre a origem do dinheiro recebido de clientes. Há registro em uma das contabilidades da facção, em 2004, de um pagamento de R$10 mil feito sob a rubrica ¿Dra. Ariane¿. Ela informou que o pagamento havia sido feito por um cliente chamado Paulo Sérgio Volpato.

Ao ser confrontada com a informação de que seu ex-marido Evandro Castellucci Arantes, ex-agente de segurança do Instituto Penal de Bauru, foi demitido sob a acusação de controlar uma central telefônica clandestina, Ariane disse que era mentira.