Título: INFLAÇÃO QUASE ZERO SURPREENDE
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 07/09/2006, Economia, p. 27

IPCA de 0,05% em agosto ficou bem abaixo das expectativas. Em 12 meses, 3,84%

Ataxa de 0,05% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em agosto surpreendeu o mais otimista dos analistas de inflação. As previsões se concentravam em 0,20%. Foi a menor taxa registrada em agosto em oito anos. Em julho, a taxa ficara em 0,19%. Com esse número, o IPCA acumula alta de 1,78% no ano e de 3,84% nos últimos 12 meses. Ou seja, abaixo da meta estabelecida pelo governo de 4,5% em 2006, num comportamento que se repete desde maio deste ano. Os números da inflação, divulgados ontem pelo IBGE, mostram uma estabilidade nos preços pouco vista num país com história de hiperinflação: em três meses, o IPCA acumula alta de apenas 0,03%. E a taxa dos últimos 12 meses de 3,84% é a menor desde agosto de 1998, ano anterior ao da mudança cambial que desvalorizou a moeda brasileira, com a adoção da flutuação da cotação do dólar.

¿ O grupo transporte registrou deflação. Em julho, o álcool combustível subiu muito, levando junto a gasolina. Esse efeito em agosto foi bem menor, trazendo a inflação para baixo. Mas tudo na verdade é dólar. Os preços são muito sensíveis às oscilações da moeda. Vivemos o efeito inverso disso nos choques cambiais, com a inflação subindo ¿ disse Eulina Santos, coordenadora do Sistema de Índice de Preços do IBGE.

Com mais uma taxa baixa de inflação, não há mais dúvidas de que a meta de 4,5% será alcançada:

¿ Os números evidenciam isso ¿ afirmou Eulina.

Mesmo com a inflação baixa e a atividade econômica morna (o país cresceu só 0,5% do primeiro para o segundo trimestre), Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora, prefere não fazer previsões sobre a decisão que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vai tomar na próxima reunião em outubro, em relação à taxa básica de juros, a Selic (14,25% ao ano):

¿ A queda nos preços dos automóveis novos (-0,6%) e usados (-0,5%) mostra demanda fraca. Vai ter uma pressão grande sobre o Copom cortar mais. Acredito que há espaço para redução de até meio ponto, como na última reunião. Mas temos que esperar a ata (do Copom).

Mesma opinião tem o economista-chefe da Mandarim Gestão de Ativos, Eduardo Velho. ¿Nas últimas semanas constatou-se o recuo das projeções de inflação de 2007, que já estariam inferiores à meta central e, sendo assim, não haveria justificativa técnica, sob a ótica do regime de metas de inflação, para o Banco Central desacelerar o ritmo de queda dos juros¿, analisou o economista em seu relatório.

Inflação pode ficar menor que o PIB

Mesmo com juro alto, o Brasil poderá viver um fenômeno praticamente inédito na história econômica recente: a economia crescer mais que a inflação. Como está caindo o preço da gasolina no mercado internacional, o conflito no Líbano não se espalhou e a economia americana deverá crescer menos, há chances de a Petrobras não reajustar o preço dos combustíveis este ano:

¿ Assim, a inflação este ano ficaria abaixo de 3%, perto de 2,9%. Portanto, abaixo da expectativa de crescimento da economia (entre 3% e 3,5%). Só tivemos isso em 1973, quando a inflação foi de 12,5% e o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas geradas no país) avançou 13,7%. Mesmo assim, a inflação era medida só no Rio de Janeiro ¿ disse o professor da PUC Luiz Roberto Cunha.

O Brasil ostenta inflação até abaixo de economias desenvolvidas como os Estados Unidos. Lá, a taxa de julho (último dado disponível) foi de 0,4% e, nos últimos 12 meses, está em 4,1%.

Para setembro, os números também estão comportados. A previsão para o IPCA está entre 0,20% e 0,25%.