Título: TESOURO FAZ EMISSÃO DE R$1,6 BILHÃO
Autor: Martha Beck, Patricia Eloy e Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 07/09/2006, Economia, p. 29
Segunda operação em reais tem o objetivo de melhorar o perfil da dívida
BRASÍLIA e RIO. Na nova estratégia de financiamento da dívida externa, o Tesouro Nacional fez ontem a segunda emissão em reais, de R$1,6 bilhão (US$750 milhões), no mercado internacional. O título, Global BRL 2022, terá uma taxa de retorno para o investidor de 12,875% ao ano e foi negociado por 97,563% de seu valor de face. Isso significa que os aplicadores exigiram um deságio para aceitar o papel, que também terá um cupom de juros de 12,5% ao ano. A emissão foi liderada pelos bancos Citigroup e JP Morgan e teve como co-gerente o Pactual.
O objetivo do governo é melhorar o perfil da dívida externa. Segundo o secretário do Tesouro, Carlos Kawall, os vencimentos ¿ US$14,193 bilhões nos próximos dois anos ¿ serão pagos com a compra de dólares no mercado interno e não com novas emissões. Kawall explicou que o Brasil tem uma situação externa mais sólida, com superávit comercial de US$46,035 bilhões em 12 meses e reservas internacionais de US$71,5 bilhões. Com isso, o governo não precisa mais ir ao mercado externo captar recursos.
As operações internacionais servem agora para alongar a dívida e retirar do mercado papéis que distorcem a curva de juros. Além disso, o foco é em emissões em real, o que permite um endividamento sem risco de valorizações abruptas de moedas estrangeiras.
A apreensão dos investidores estrangeiros em relação a uma eventual pressão inflacionária e a uma forte desaceleração da economia americana ¿ a chamada estagflação ¿ levou a fortes perdas nas bolsas mundiais. A Nasdaq recuou 1,72%; o índice FTSE, da Bolsa de Londres, 0,87%; e a Bovespa caiu 1,76%, reagindo a dados do mercado de trabalho e da produtividade americana. O mau humor teve reflexos sobre os demais mercados: o dólar subiu 0,89% no país, para R$2,152, e o risco-Brasil avançou 1,40%, para 216 pontos centesimais.
O fluxo cambial do país (diferença entre entrada e saída de moeda estrangeira) fechou agosto com saldo de US$1,291 bilhão, acumulando no ano o recorde de US$26,912 bilhões, divulgou o BC. No mesmo mês de 2005, o fluxo ficou negativo em US$7 bilhões. A balança comercial continua sendo a grande responsável pela forte entrada de dólares.