Título: APROVADO CORAÇÃO ARTIFICIAL AUTÔNOMO
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Fonte: O Globo, 07/09/2006, O Mundo / Ciencia e Vida, p. 34

Aparelho só poderá ser usado por pacientes graves e custa US$250 mil

WASHINGTON. A Administração de Remédios e Alimentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) aprovou o primeiro coração artificial que permite ao paciente ter uma vida autônoma ¿ sem se conectar a cabos ou aparelhos ¿ por até duas horas. O aparelho, chamado Abiocor, entrou em testes há seis anos. Porém, os primeiros 14 voluntários já morreram. Por isso, a aprovação tem uma série de limitações. O equipamento somente será implantado em pacientes graves, que não teriam mais do que um mês de sobrevida e, mesmo assim, como solução intermediária até que a pessoa possa receber um transplante.

Apenas pessoas com insuficiência cardíaca muito grave e que não respondem a qualquer outro tratamento poderão receber o implante do novo coração. Entre os problemas que apareceram nos testes está a formação de trombos. A aprovação, segundo a FDA, foi concedida por motivos humanitários. A FDA considerou que, embora o coração artificial tenha limitações, suas vantagens superam os problemas no caso de pacientes muito graves. Porém, o Abiocor não deverá solucionar a falta de órgãos para transplante.

Dos 14 homens que receberam o coração artificial, dois morreram na operação. Um não recobrou a consciência e morreu após alguns dias. Dez viveram por cerca de cinco meses. Apenas um, um homem de 69 anos, chegou a 17 meses de sobrevida, mas também morreu, devido a uma falha do equipamento. Porém, durante esse tempo os 11 pacientes testados puderam deixar por duas horas o hospital e dar um curto passeio ou visitar a família.

¿ Pode parecer pouco, mas foi um avanço muito significativo para esses pacientes. Para quem está à morte, ter um tempo com a família é muito importante ¿ disse Daniel Schultz, diretor do Centro de Avaliação e Pesquisa de Equipamentos da FDA.

O coração autônomo é feito de titânio e plástico. Tem o tamanho de uma laranja e pesa cerca de um quilo. Ele funciona alimentado por uma bateria, fixada ao abdômen do paciente. Com o método se evita a necessidade de colocar cabos internos para ligar a bateria ao coração, o que é uma fonte de infecções, além de impedir que a pessoa deixe o hospital. A bateria pode ser recarregada numa tomada comum e o paciente poderá ter o sistema instalado em casa.

A Abiocor calcula que só nos Estados Unidos quatro mil pessoas poderão receber o implante a cada ano. O aparelho, porém, é muito caro: custa US$250 mil.

Além disso, praticamente, ele só poderá ser implantado em homens ¿ devido a suas dimensões. Somente mulheres grandes terão condições de receber o implante. A empresa, no entanto, diz que já começou a desenvolver um modelo menor, que poderia ser usado por mais mulheres. A Abiocor também espera lançar em dois anos um modelo capaz de prolongar a vida de um paciente cardíaco grave por até cinco anos.