Título: FH ABALA CAMPANHA DE ALCKMIN
Autor: Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 09/09/2006, O País, p. 3

Tucanos mostram surpresa com carta do ex-presidente e dizem que crítica agora não ajuda

Acarta divulgada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no 7 de setembro, em que ele faz um balanço de erros e acertos do PSDB e admite a possibilidade de derrota na disputa presidencial, abriu uma crise no comando da campanha de Geraldo Alckmin. A ordem ontem era evitar comentários públicos sobre a carta. Mas, nos bastidores, tucanos admitiram que foram pegos de surpresa e que o texto, embora adequado quanto às críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não ajuda em nada a campanha do PSDB nesta reta final.

Reservadamente, alguns dirigentes tucanos reagiram com irritação ao que chamaram de atitude inoportuna do ex-presidente. O próprio Fernando Henrique tentou amenizar o tom de sua carta. Por intermédio do ex-secretário-geral da Presidência da República e um dos coordenadores da campanha tucana Eduardo Jorge, avisou a líderes do PSDB que não teve intenção de criticar o partido, e que seu objetivo foi mobilizar a militância em favor de Alckmin. Mas na longa carta Fernando Henrique não pede votos para o candidato do partido.

De manhã, em São Paulo, Alckmin cancelou um evento de campanha. Sua assessoria afirmou que o cancelamento deveu-se à gravação do programa eleitoral. À noite, em Fortaleza, onde faz campanha hoje, o candidato só comentou as críticas de Fernando Henrique ao governo Lula e depois divulgou uma carta (leia abaixo):

¿ Ele (Fernando Henrique) tem razão. O presidente traduziu o sentimento de desencanto e frustração com o governo Lula ¿ comentou.

Perguntado sobre o trecho da carta que sugere que o PSDB deve perder as eleições, Alckmin disse que ninguém jogou a toalha:

¿ Sinto que a rua está cada vez melhor. Estou extremamente animado. Os programas de TV estão sendo muito bem recebidos. A população está se conscientizando de que o Brasil não pode continuar com um governo eivado de denúncias de corrupção, ineficiente, com um país que não cresce e está perdendo tempo.

O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), também minimizou a crise, mas admitiu o constrangimento, nas entrelinhas, ao dizer o assunto será logo esquecido:

¿ Não tem crise nenhuma, são pequenas nuances que acontecem nas melhores famílias de Londres, Sobral e adjacências. Amanhã, tudo estará em paz. Ainda mais com o crescimento de Alckmin na pesquisa do Ibope. Foi o único a subir. Isso nos dá ânimo e mostra mudança da disposição da população.

¿ A campanha não está calada e falará cada vez mais sobre os fatos que caracterizam a fase Lula ¿ disse o coordenador-geral da campanha de Alckmin, senador Sérgio Guerra (PE).

Também causou mal-estar a afirmação do ex-presidente de que o PSDB errou ao ¿tapar o sol com a peneira¿ em relação às acusações que envolveram o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), acusado de praticar caixa dois na campanha de 1998. O governador Aécio Neves (MG) e Sérgio Guerra telefonaram para Azeredo, para se solidarizar com ele.

Para Azeredo, FH foi desleal com o PSDB

Azeredo, que teve de deixar a presidência do PSDB, em outubro do ano passado, após seu nome ser citado no escândalo do valerioduto, atacou:

¿ Ele (Fernando Henrique) está sendo inoportuno, incorreto, injusto. Ele cometeu uma deslealdade partidária ao afirmar que o partido ¿tapou o sol com a peneira¿ no meu episódio. O meu caso foi algo de campanha, diferente do que aconteceu com o PT. No caso do PT foi corrupção. Isso ficou muito claro no ano passado.

Fernando Henrique não fez comentário público sobre a carta. Ontem, ele estava em Bariloche, Argentina.

Alckmin minimizou a reação irritada de Azeredo:

¿ Não podemos misturar as coisas. O senador já explicou, mas numa República todo mundo deve prestar contas.

Azeredo afirmou que está fazendo campanha para Alckmin em Minas:

¿ Diferentemente de Fernando Henrique, que só critica, estou fazendo campanha.

Aécio não quis comentar a carta alegando não ter lido, mesmo argumento usado cedo por José Serra, que disputa o governo de São Paulo. Mais tarde, Serra defendeu Azeredo:

¿ Na verdade, não tinha nada a ver com nenhuma espécie de mensalão nem nada parecido, foi um problema de contas de campanha. São duas coisas separadas.

Sobre Fernando Henrique, disse:

¿ Ele fez um posicionamento amplo para militantes do PSDB a respeito das principais questões que envolvem a eleição, numa análise bastante dura para o Lula, em relação ao PT e transmitindo sua opiniões a respeito de como o PSDB deve conduzir isso. Acho que o aspecto mais importante da carta dele é precisamente a critica às conseqüências morais e éticas do comportamento do governo Lula.

* Enviada especial

COLABOROU João Carlos Moreira, do Diário de S. Paulo