Título: A prova da carnificina
Autor: Luiz Ernesto Magalhães
Fonte: O Globo, 09/09/2006, Rio, p. 14
Quase 90 mil acidentados foram atendidos em 6 anos, em 5 emergências municipais
Acarnificina em que se transformou o trânsito no Rio se reflete nas estatísticas das emergências hospitalares e também nas infrações de trânsito cometidas por imprudência ao volante. Os números mostram que as campanhas de prevenção não vêm alcançando seus objetivos. Em seis anos (2000-2005), 87.797 vítimas de colisões e atropelamentos foram atendidas em cinco das principais emergências da cidade: Souza Aguiar (Centro) , Miguel Couto (Gávea), Salgado Filho (Méier), Paulino Werneck (Ilha) e Lourenço Jorge (Barra), segundo a Secretaria municipal de Saúde. Isto sem contar as emergências de hospitais particulares, estaduais e federais. Neste período, o total de casos aumentou 12,1% nestas cinco emergências.
Já dados da Secretaria municipal de Transportes mostram que, de janeiro de 1999 até abril de 2006, foram aplicadas nada menos que 3.167.184 multas por excesso de velocidade e avanço de sinal. Em média, essas infrações correspondem à metade de todas as multas lavradas por radares, guardas municipais e PMs nas ruas do Rio. Deste total, 2.361.211 multas (74,5%) ocorreram por excesso de velocidade e outras 805.973, por avanço de sinal ¿ justamente infrações que causam acidentes graves.
¿ É verdade que hoje temos mais pontos de fiscalização eletrônica (30 pardais e 32 lombadas). Mas todos estão sinalizados, o que não acontecia em 1999. Os carros ficaram mais potentes e os motoristas, mais ousados. ¿ avalia o presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio), Marcos Paes.
Lesões também se agravam
Este ano, os atendimentos nas emergências da prefeitura motivados por acidentes de trânsito continuam elevados. Sem contar a do Souza Aguiar, cujas estatísticas não estão disponíveis, as demais já atenderam 4.654 acidentados até junho. A natureza das lesões vem se agravando:
¿ Há uma década, os acidentados no trânsito apresentavam principalmente lesões no rosto e traumatismos cranianos leves, devido ao choque da cabeça com o pára-brisa. Hoje, a maioria dos pacientes são politraumatizados. A natureza das lesões exige a atenção de diversos especialistas, como neurocirurgiões, cirurgiões vasculares e ortopedistas ¿ diz o diretor do Souza Aguiar, José Macedo.
Mesmo sem números de 2006, o Souza Aguiar lidera as estatísticas de vítimas de acidentes de trânsito: foram 32.155 atendimentos de janeiro de 2000 a dezembro de 2005.
Para o tenente-coronel Milton Corrêa da Costa, que preside a 3ª Junta Administrativa de Recursos de Infrações do Detran, as estatísticas mostram a necessidade de intensificação das campanhas educativas e de repressão aos abusos no trânsito. Já Marcos Paes diz que a prefeitura preparara uma campanha educativa para alertar os jovens sobre o risco de beber e dirigir. Folhetos educativos serão entregues em boates para serem distribuídos aos freqüentadores como parte das ações da prefeitura para comemorar a Semana Nacional do Trânsito, de 18 a 25 de setembro. Mas, para o vice-presidente da Comissão Especial de Acompanhamento e Estudo da Legislação de Trânsito, Sérgio Damasceno, isoladamente, as campanhas educativas não surtirão efeito se o motorista que comete os abusos acreditar que possa escapar impune:
¿ Desde 99 tivemos a aprovação de várias leis concedendo anistia para os infratores.