Título: MENSALEIROS DE COFRES CHEIOS
Autor: Plínio Teodoro
Fonte: O Globo, 08/09/2006, O País, p. 3

Onze suspeitos de envolvimento em escândalo declaram ao TSE arrecadação de R$2,909 milhões

Onze políticos acusados de envolvimento no escândalo do mensalão ¿ sendo oito deputados e dois ex-deputados de vários partidos e um ex-dirigente petista ¿ concorrem a um novo mandato na Câmara e já arrecadaram R$2,909 milhões, de acordo com os dados informados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em setembro. As prestações de contas apresentadas pelos candidatos correspondem a um aumento de 74,86% em relação aos valores registrados até o mês passado.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, lidera a lista de arrecadação dos mensaleiros, com um volume de R$777,3 mil em recursos declarados ao TSE. O aumento em relação à arrecadação de agosto foi de pouco mais de R$10 mil. Denunciado 41 vezes por crime de improbidade administrativa, corrupção passiva e peculato, além de ser apontado como um dos principais beneficiados no mensalão, Costa Neto renunciou ao cargo após admitir que recebeu dinheiro de Marcos Valério, o operador do esquema, para pagar dívidas de campanha em 2002.

Vadão Gomes (PP-SP), apontado como beneficiário de R$3,7 milhões do valerioduto, registrou aumento de 1.598% no volume arrecadado. Em agosto, o candidato apresentou ao TSE uma arrecadação de R$5 mil. Em setembro, foram registrados R$84,9 mil. O candidato foi o último deputado a ser absolvido pelos colegas em plenário.

O PT lidera a arrecadação entre os candidatos envolvidos no escândalo. Os sete petistas são responsáveis por 62,5% do volume arrecadado pelos mensaleiros. Juntos, João Paulo Cunha (PT-SP), José Mentor (PT-SP), José Genoino (PT-SP), Professor Luizinho (PT-SP), Josias Gomes (PT-BA), João Magno (PT-MG) e Paulo Rocha (PT-PA) totalizam R$1,818 milhão em doações informadas ao TSE. O valor é 117,2% superior ao apresentado pelos candidatos petistas no mês de agosto, de R$837 mil. O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, que admitiu ter pago contas do partido com R$50 mil recebidos no esquema, amealhou R$635,9 mil, o maior valor entre os sete candidatos petistas.

Só em SP, envolvidos arrecadam R$1,5 milhão

Somente em São Paulo, a arrecadação dos petistas envolvidos no escândalo chega próximo a R$1,5 milhão. Genoino, que em agosto lançou o livro ¿Entre o sonho e o poder¿ contando sua trajetória política, registrou aumento de 187% no caixa de campanha, saltando de R$70 mil declarados em agosto, para R$201 mil em setembro. Genoino não era deputado à época do escândalo do valerioduto, mas presidia o PT, e teve de deixar o cargo após a revelação de que assinara dois empréstimos feitos pelo PT no BMG e no Banco Rural, ambos avalizados por Valério.

Outro petista envolvido no escândalo que registrou aumento significativo nos recursos obtidos foi o baiano Josias Gomes, acusado de sacar R$100 mil das contas de Marcos Valério no Banco Rural. Em agosto, o candidato informou ao TSE ter recebido doações de apenas R$5 mil. Um mês depois, o valor informado chegou próximo aos R$70 mil.

Pedro Henry (PP-MT), que também está envolvido nas denúncias que investigam a máfia dos sanguessugas, registrou aumento de 386,5% na arrecadação. O candidato informou ter conseguido R$145 mil em recursos para campanha até o mês de setembro.

O petista João Magno (MG), acusado de receber R$350 mil de Valério, também aumentou o volume de contribuições em 145% ¿ de R$41 mil em agosto para R$100 mil em setembro. Fora da lista de beneficiários do mensalão, a deputada Angela Guadagnin (PT-SP) acabou ganhando fama ao protagonizar a ¿dança da pizza¿. Angela, que concorre à reeleição, dançou no plenário depois da absolvição de João Magno. Ao TSE, ela informou aumento de 263,4% em suas doações de campanha, que subiram de R$41 mil para R$149 mil.

José Borba (PMDB-PR), acusado de receber R$2,1 milhões do valerioduto, renunciou para não ser cassado e lançou-se candidato contra a vontade do partido. Teve o registro impugnado pelo TRE do Paraná e recorreu, mas não constam no site do TSE dados sobre arrecadação e gastos de sua candidatura. Outros três deputados envolvidos no escândalo do mensalão ¿ José Dirceu (PT-SP), Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Pedro Corrêa (PP-PE) ¿ tiveram os mandatos cassados em plenário e estão impedidos de concorrer. Já José Janene (PP-PR), Carlos Rodrigues (PL-RJ) e Wanderval Santos (PL-SP), também implicados no valerioduto, decidiram não se candidatar.

*Do Globo Online, especial para O GLOBO

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