Título: EM CARTA, FH ATACA LULA E PEDE CONFRONTO
Autor: Mariza Louven
Fonte: O Globo, 08/09/2006, O País, p. 5
Ex-presidente diz que PSDB deve marcar posição para o futuro
BRASÍLIA. Em longa carta endereçada aos eleitores do PSDB, divulgada ontem no site do partido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez uma espécie de balanço dos erros e acertos dos tucanos. Admitiu dificuldades em convencer a maioria do eleitorado dos argumentos do seu grupo político e desferiu novos ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT, responsáveis, segundo ele, pelos desmandos e pela corrupção no país.
Sem pedir votos para o candidato tucano, Fernando Henrique defende que Geraldo Alckmin parta para o confronto com Lula, afirmando que o primeiro tem condições morais e éticas que o segundo não tem. Apontando como primeiro erro ¿ter tapado o sol com a peneira¿ no caso do caixa dois na campanha do então governador de Minas Eduardo Azeredo, em 1998, o ex-presidente disse que os tucanos não foram também suficientemente firmes na denúncia política ¿de todo esse descalabro¿ no momento adequado. ¿Não será agora, durante a campanha eleitoral, que conseguiremos despertar a população. Mas, para nos diferenciarmos da podridão reinante, temos a obrigação moral de não calar.¿
Manifestando descontentamento com a campanha de Alckmin, o ex-presidente cobra: ¿Nosso candidato à Presidência tem as mãos limpas. Tem história de seriedade. Por que não bradar isso com força? Por que não fazer o contraponto com o outro lado? Nada a temer nem a esconder. Enfim: faltam condições morais a um e sobram a outro. Essa é a diferença.¿
Ex-presidente fala da possibilidade de derrota
Afirmando que o PSDB não pode se calar e que essa diferença moral é o ponto de partida para recuperar o reconhecimento público do valor da política e do legado do PSDB, ele sugere a derrota nas eleições: ¿Ainda que o eleitorado não nos acompanhe neste momento, deixaremos as marcas de nosso estilo, de nossas atitudes, para calçar um futuro melhor para o país¿.
O ex-presidente diz que a indignação fica maior quando se vê o presidente da República passando a mão na cabeça dos que erraram, ¿com a desculpa de que todos são iguais ou, então, em versão mais sofisticada da mesma falta de vergonha, dizerem que a culpa é do sistema¿.
Fernando Henrique cobrou a defesa de atos de seu governo: ¿Não podemos continuar meio envergonhados cada vez que o PT e seus aliados falam de `privataria¿. Privatizamos sim, e nada temos a esconder no processo de privatização¿.
Defendeu ainda posição mais clara do PSDB sobre a política externa e concluiu: ¿Em suma, se quisermos exercer uma liderança renovadora precisamos manter antigos compromissos democráticos, radicalizando-os, através da reforma política; precisamos reatar os fios entre o partido e a sociedade; (...) romper os vínculos ideológicos que ainda nos prendem à visão estatista-desenvolvimentista e rechaçar todas as formas de populismo; sustentar políticas que reduzam a pobreza até sua eliminação, gerando empregos sem contentar-nos com o necessário assistencialismo e sem ficarmos embaraçados com a forma capitalista do crescimento da economia¿.