Título: APOSTA NA MARCHA LENTA
Autor: Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 09/09/2006, Economia, p. 25

Ata do BC faz analistas esperarem corte menor de juros, mesmo após decepção com PIB

Otom da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) levou os analistas a apostarem que o Banco Central (BC) continuará cortando os juros básicos da economia ¿ a taxa Selic, que recuou para 14,25% ao ano na semana passada ¿ a curto prazo, mas provavelmente reduzirá o ritmo para 0,25 ponto percentual por vez. Isso porque a diretoria da instituição reafirmou, no documento, que o BC poderá ter de agir com mais ¿parcimônia¿, está mais preocupado com os preços internacionais do petróleo e chegou a cogitar um corte menor na Selic semana passada, mesmo com a atividade econômica patinando.

¿ A ata é muito parecida com a anterior (de julho), e quase todo mundo esperava, naquele momento, corte de 0,25 ponto no último encontro ¿ disse o sócio-diretor da Modal Asset Management Alexandre Póvoa.

Em agosto, quando a Selic acabou sendo reduzida em 0,5 ponto percentual, os diretores do BC consideraram a possibilidade de redução de apenas 0,25 ponto. Mas acabaram optando por uma dosagem maior devido às ¿condições monetárias¿. Eles se referiam à inflação sob controle, que permite afirmar que o IPCA fechará 2006 bem abaixo da meta e ficará no centro do objetivo para 2007. Também deve ter pesado ¿ embora a ata não explicite, diz Póvoa ¿ o fato de a economia ter se desacelerado muito no segundo trimestre (expansão de apenas 0,5%). Os juros são usados para calibrar a atividade econômica e seu impacto sobre a inflação.

No entanto, o BC repetiu nesta ata que, como ainda não consegue dimensionar os efeitos sobre 2007 dos cortes de juros (5,5 pontos percentuais desde setembro de 2005), o Copom deverá conduzir a política monetária ¿com parcimônia¿. Ou seja, a autoridade monetária não vê riscos imediatos ao controle dos preços, mas olha com lupa os indicadores. O BC acredita que pode haver mudanças relevantes no cenário entre uma e outra reunião do Copom, com impacto na inflação. Por isso, os especialistas continuam acreditando no conservadorismo da instituição.

Na ata de ontem, o BC destacou especialmente o comportamento dos preços internacionais do petróleo. Apesar de terem cedido recentemente, novos aumentos podem elevar o custo dos combustíveis no país, com impacto no IPCA. O Copom ainda trabalha com expectativa de manutenção dos preços, mas reconhece que esse cenário vem se tornando ¿progressivamente menos plausível¿, e, portanto, ¿caso se consolidem as tendências observadas recentemente, o Copom poderá ter de incorporar ao seu cenário central de trabalho uma elevação dos preços domésticos da gasolina ainda em 2006¿.

¿ O Copom chama muito a atenção para o petróleo. O que pesa também é o diesel. Há uma defasagem grande de preços (entre o que é cobrado aqui e o aumento do valor da commodity) ¿ avaliou o economista-sênior da Unibanco Asset Management, José Luciano Costa.

O BC classifica o cenário externo ¿ do ponto de vista do fluxo de capitais ¿ como favorável. A autoridade monetária considera o crescimento de renda e emprego o grande estimulador da economia, além dos ¿impulsos fiscais¿ ¿ aumento dos gastos públicos ¿ e do novo salário mínimo.

O Copom manteve ainda suas projeções para alguns preços. Para o gás de bujão, espera alta de 0,1% neste ano. O comitê estima alta de 2,7% nas tarifas de telefonia fixa e queda de 0,9% nas de energia elétrica. Para o conjunto de preços administrados pelo governo, a expectativa foi mantida em 4,4% de alta.

Como a maioria do mercado foi surpreendida, no último encontro, com a manutenção do ritmo de queda da Selic pelo terceiro encontro seguido, ninguém descarta, porém, que esse corte volte a se repetir em 18 de outubro.

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) caiu ontem 0,41%, ainda influenciada pela queda no preço do petróleo. O dólar encerrou o dia em ligeira alta, de 0,42%, a R$2,166, com o mercado registrando baixo volume de negócios após o feriado. O BC fez leilão de compra de dólar à vista, aceitando apenas quatro propostas, de R$2,160, o que segurou a cotação. O risco-Brasil caiu 0,45%, para 220 pontos centesimais.

As preocupações dos investidores internacionais em relação a um enfraquecimento do mercado imobiliário americano e a uma desaceleração no ritmo de crescimento dos EUA fizeram com que os fundos que aplicam em ações de mercados emergentes registrassem a segunda semana consecutiva de perdas.

Segundo a consultoria americana EmergingPortfolio.com, nos últimos 15 dias, os resgates somaram cerca de US$800 milhões. Com isso, a captação desses fundos no ano ficou em US$17 bilhões. Até meados de maio ¿ antes da crise deflagrada pelos temores de uma expansão menor da economia americana ¿, as aplicações somavam US$32 bilhões.

COLABORARAM Ana Cecília Santos e Patricia Eloy