Título: INVESTIGADOS ARRECADAM MAIS QUE INVESTIGADORES
Autor: Raquel Miura e Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 10/09/2006, O País, p. 16

Soma das doações para deputados acusados de corrupção supera em 53% verba obtida pelos relatores dos processos

BRASÍLIA. Deputados que enfrentaram processo de cassação na Câmara por denúncias de corrupção arrecadaram mais dinheiro para suas campanhas do que seus colegas que atuaram como investigadores no Conselho de Ética. Levantamento realizado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) demonstra que a soma das doações para a campanha de oito deputados acusados de participarem do mensalão supera em 53,5% o valor que os oito relatores destes processos na Câmara conseguiram levantar até o início de setembro. Os acusados arrecadaram até o momento R$2,255 milhões, contra R$1,468 milhão dos acusadores.

Mas, se comparados isoladamente, dos oito mensaleiros investigados, três receberam volume de doações menor do que o destinado a seus investigadores. Em cinco dos oito casos analisados, os acusados conseguiram arrecadar mais que os acusadores.

Professor Luizinho obteve 693% mais que Pedro Canedo

A maior diferença percentual está na arrecadação dos deputados Professor Luizinho (PT-SP) e Pedro Canedo (PP-GO). O petista teve seu pedido de cassação aprovado pelo Conselho de Ética em processo relatado por Canedo. Luizinho, que foi absolvido em plenário, obteve até agora R$471 mil, valor 693,5% maior que a arrecadação do goiano, de R$60 mil.

Em valores absolutos, a maior diferença é registrada no caso do ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). Ele arrecadou R$448 mil a mais que o relator de seu processo no Conselho de Ética, o deputado Cezar Schirmer (PMDB-RS), que em dois meses de campanha levantou R$188 mil.

Os outros três embates em que os acusadores levaram vantagem foram: Pedro Henry (PP-MT) x Orlando Fantazzini (PSOL-SP); Romeu Queiroz (PTB-MG) x Josias Quintal (PSB-RJ) e Sandro Mabel (PL-GO) x Benedito de Lira (PP-AL).

Em três casos, os acusados levantaram menos que os acusadores. O deputado Mendes Thame (PSDB-SP), por exemplo, relator do processo contra Josias Gomes (PT-BA), arrecadou R$520 mil contra R$69 mil do petista.

No escândalo dos Sanguessugas, o relator da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), arrecadou R$340 mil em doações para campanha ao governo de seu estado, enquanto que o senador Ney Suassuna (PMDB-PB), apontado com um dos principais beneficiários do esquema que fraudava a compra de ambulâncias, conseguiu mais que o dobro, R$760 mil, para sua tentativa de reeleger-se para o Senado.

O presidente da CPI dos Sanguessugas, Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ) conseguiu arrecadar pouco mais de R$150 mil até o momento.

¿ Só agora estou podendo me dedicar à campanha. O trabalho na CPI foi duro e tomou quase todo o tempo ¿ afirmou Biscaia.

Izar arrecadou menos que acusados no Conselho de Ética

O deputado Ricardo Izar (PTB-SP) ¿ que hoje é reconhecido nas ruas por ter presidido o Conselho de Ética durante o escândalo do mensalão e por ter determinado a abertura de processo contra deputados acusados de participação da máfia das ambulâncias ¿ também arrecadou bem menos que vários parlamentares que responderam a processo no Conselho de Ética. Ele conseguiu até agora R$133,7 mil, valor considerado baixo para a disputa por uma vaga na Câmara dos Deputados por São Paulo.

(*) Da CBN, especial para O GLOBO

COLABOROU: Maria Lima

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