Título: DEMOCRACIA POLÍTICA, CONQUISTA RECENTE
Autor: Luciana Rodrigues e Florência Costa
Fonte: O Globo, 10/09/2006, Economia, p. 41

No parlamento, dificuldade comum para aprovar reforma tributária

O título de três grandes democracias, que os parceiros do Ibas tanto se orgulham de ostentar, não é imune a problemas típicos de países onde a liberdade política é recente, conquistada apenas já com o século XX bem avançado (em 1947 na Índia, em 1985 no Brasil e em 1994 na África do Sul). Os três parceiros enfrentam os mesmos desafios de combate à corrupção e de fortalecimento das instituições.

Na Índia, assim como no Brasil, o quadro partidário é diversificado, diz Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV). As reformas econômicas foram conduzidas ao longo de quatro diferentes governos desde 1991. Há 14 partidos políticos, e o primeiro-ministro busca a coalizão com aliados e até adversários. O governo reflete o pluralismo da sociedade: o primeiro-ministro é sique, o presidente, muçulmano, e a figura política mais popular, uma mulher estrangeira, a italiana Sonia Gandhi.

O país esbarra na mesma dificuldade que o Brasil num dos principais entraves à sua economia: falta consenso político no parlamento e entre os governos locais para realizar uma reforma tributária.

Na África do Sul pós-apartheid, o poder ficou nas mãos do Congresso Nacional Africano (CNA), partido criado pela resistência negra que atuou na clandestinidade nos anos de supremacia branca. Nelson Mandela ¿ eleito em 1994 no primeiro pleito multirracial ¿ foi sucedido por Thabo Mbeki, presidente do país desde 1999.

¿ Ao contrário de outros países africanos que praticamente expulsaram os brancos, Mandela entendeu que era importante criar um regime de conciliação ¿ diz Langoni.

A crescente centralização do poder com o CNA fez surgir o temor de que a África do Sul se torne um país de partido único.

¿ Aqui, quem é branco e critica o governo é chamado de racista. Quem é negro e critica, de traidor ¿ diz um professor universitário de Pretória que, mesmo em entrevista a um jornal brasileiro, pede para não se identificar.

Mas, em que pese o domínio do CNA no Executivo e no Legislativo, outras instituições sul-africanas, como o Judiciário, gozam de total independência. Recentemente, líderes do CNA foram condenados por corrupção. (L.R. e F.C.)