Título: BIN LADEN, UM ÍCONE ONIPRESENTE NOS EUA
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 10/09/2006, O Mundo, p. 43

Imagens de líder da al-Qaeda estão por toda parte

NOVA YORK. Não tem para ninguém. Com seus gestos calmos, sua voz suave, entonação professoral, barba embranquecida e o onipresente fuzil AK-47 sempre ao alcance da mão, Osama Bin Laden é a estrela maior e mais constante na televisão americana nessa fase de cerimônias marcando o quinto aniversário dos atentados do 11 de Setembro.

Dezenas de programas especiais, documentários, filmes, debates e entrevistas ocupam os horários nobres das principais redes, repetindo incansavelmente as mesmas imagens tantas vezes já mostradas e contando as mesmas histórias tão ouvidas nestes últimos cinco anos.

Aparentemente, o mito de inimigo público nº 1 necessita ser constantemente alimentado, mesmo que nenhum atentado tenha ocorrido em solo americano nos últimos cinco anos. A política de combate ao terrorismo é o único ponto da agenda do governo em que o presidente George W. Bush conta com a confiança da maioria (51%) do povo americano.

¿ Os falcões de Washington, George W. Bush, Dick Cheney, Donald Rumsfeld, Condoleezza Rice e John Bolton, sabem que a sobrevivência política está em maximizar a ameaça terrorista e, para isso, não vacilam em ocupar todos os espaços, sempre que possível, acenando com a ameaça do apocalipse, caso os Estados Unidos baixem a guarda um só instante ¿ diz John Guershman, diretor de programas internacionais da Universidade de Nova York.

Apesar da pressão americana, para a maioria dos analistas internacionais a al- Qaeda está cada vez mais debilitada. É uma rede dispersa e descentralizada, sem comitê central, centro de comando ou controle, mantendo apenas poucas células locais, que se encontram somente para planejar operações específicas. É formada basicamente por muçulmanos sunitas, em sua maioria de origem saudita, seguidos por egípcios, iemenitas e argelinos.

Segundo Michael Mann, professor de sociologia da Universidade da Califórnia e autor de ¿O império da incoerência¿, a al-Qaeda é formada hoje por umas poucas centenas de exilados árabes fracos demais para atacar seus próprios Estados nacionais.

¿ A al-Qaeda não é composta de guerrilheiros que se ocultam como peixes no mar no meio de uma grande população solidária com sua luta, como acontece com o Hezbollah, por exemplo. Na realidade, são grupos dissidentes extremistas isolados e que sobrevivem com dificuldades em terra estranha. Sua segurança foi destruída pelos atentados do 11 de Setembro. Agora, quase todos os governos estão atrás deles, matando, interrogando, vigiando, infiltrando-se. Os poucos partidários da al-Qaeda fugiram para os recessos mais remotos do Iraque curdo. Só o Paquistão continua razoavelmente protetor para eles ¿ explica Mann.

O tempo é o maior aliado de Bin Laden. Depois de cinco anos, cada dia que sobrevive à caçada implacável patrocinada pela nação mais poderosa do mundo é uma vitória. Isolado, sem poder usar sequer um celular para não ser localizado, mudando constantemente de abrigo, com sua precária segurança dependendo de terceiros, Osama Bin Laden vive como seus antecedentes viviam na Idade Média. Mas nem por isto deixou de ser o inimigo nº 1 do maior império do mundo. (H.C.)