Título: A cara da oposição
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 11/09/2006, O GLOBO, p. 2

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso abriu um debate que deve consumir a oposição nos próximos meses. O tucano parte do pressuposto de que o presidente Lula pode vir a ser reeleito para tratar do tipo de oposição que deve ser feita. Para FH, a sobrevivência do PSDB está em manter-se longe do governo petista, rejeitando a tese dos que defendem uma aproximação.

A manifestação de Fernando Henrique teria dois objetivos, de acordo com um integrante da direção do PSDB: evitar a capitulação dos tucanos diante de um segundo governo petista e não deixar o PFL virar o protagonista na oposição. Nos dias anteriores à divulgação da carta de FH, o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), já havia declarado em entrevista que seu partido iria fazer uma oposição dura ao presidente Lula num eventual segundo mandato. Bornhausen afirmou que seu partido irá construir um projeto próprio para 2010. Os tucanos querem retomar o poder e, para isso, de acordo com esse dirigente tucano, o partido precisa ser a cara da oposição. Não pode abrir espaços para que outros o façam. Essa dinâmica, independentemente dos apelos à concórdia que o presidente Lula vier a fazer, será determinante no comportamento da oposição.

As pesquisas de intenção de voto e as projeções de consultorias privadas mostram que, devido ao papel pendular que o PMDB representa, o próximo governo tem condições de manter as presidências da Câmara e do Senado, construir uma maioria estável na Câmara e uma maioria relativa no Senado. Uma aliança partidária bem administrada e a situação econômica sob controle apontam para um cenário inicial de tranqüilidade institucional. Mas na política a tendência é manter-se a tensão. Os principais líderes do PFL e do PSDB estão deixando claro que não pretendem baixar as armas, mesmo se vierem a ser derrotados em outubro. Seus principais quadros no Congresso pretendem manter as investigações sobre as irregularidades ocorridas no primeiro mandato petista e vão continuar denunciando o envolvimento de petistas, e membros do governo, em atos de corrupção. Isso criará uma realidade política de guerra sem tréguas.

Nesse cenário, avaliam alguns peemedebistas, se abrirá espaço para uma terceira via. Para construir uma candidatura que não tenha como base a negação do que foi feito. Foi fugindo do confronto que Germano Rigotto (RS) elegeu-se governador em 2002 e foi dizendo que manteria o que estava bom que José Serra e José Fogaça elegeram-se prefeitos de São Paulo e Porto Alegre em 2004.