Título: PELAS ESTRADAS DO CONFRONTO
Autor: Cristiane Jungblut e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 11/09/2006, O País, p. 3

Discussão entre Alckmin e Lula sobre situação das rodovias esquenta debate eleitoral

A discussão sobre a situação das estradas brasileiras esquentou o debate eleitoral. Anteontem, pela primeira vez, o programa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu a uma denúncia feita no mesmo dia pelo candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, sobre o estado de conservação das estradas federais no Maranhão. Ontem, em comício em Brasília, Alckmin ironizou a reação de Lula, cujo programa eleitoral classificou de antiética e demagógica a manobra do tucano:

¿ O PT e o Lula não podem falar de ética. Não conhecem a palavra ética. Têm medo de perder voto. Gostam de ficção, mas a realidade é bem diferente. Foi bom para esquentar a campanha, que estava um monólogo. Tem gente que fica passeando de Aerolula nas nuvens, quando precisamos de governo pé no chão ¿ disse.

¿ Ele (Lula) deveria ter ficado bravo não com a crítica, mas com o abandono que está a infra-estrutura brasileira. O dinheiro do mensalão, do sanguessuga, do vampiro, do valerioduto, de tudo isso, deveria ir para estrada, escola, hospitais, moradia ¿ completou.

Antes de saber que os tucanos iriam explorar o assunto no horário eleitoral, Lula tinha cobrado explicações no governo sobre a situação da rodovia no Maranhão, cuja precariedade foi mostrada no ¿Jornal Nacional¿. Ao descobrir pela imprensa que Alckmin iria à rodovia, João Santana, marqueteiro petista, sugeriu dar resposta antecipada às críticas. Lula concordou.

¿ O presidente não gosta de deixar nada sem resposta ¿ disse o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho.

¿ Mas a linha do programa não muda. Podemos responder topicamente a algo que surja ¿ afirmou Paulo Ferreira, secretário de Finanças do PT e da campanha.

Alckmin ri da reação de Lula

A campanha de Lula interpreta o episódio como o ¿primeiro enfrentamento¿ entre os dois programas dos principais candidatos.

Alckmin disse que estava num comício no Ceará quando os programas foram veiculados. Mas, ao saber da reação do petista, sorriu:

¿ A verdade dói.

A campanha tucana comemorou no sábado à noite a mudança de comportamento de Lula. A avaliação é a de que as críticas do PT na TV seriam o fim do estilo ¿Lulinha paz e amor¿, criado pelo publicitário Duda Mendonça em 2002. Os tucanos acreditam ainda que a nova estratégia petista estaria sinalizando o temor do comando de enfrentar um segundo turno.

¿ Lulinha paz e amor era produto do Duda Mendonça, nunca existiu. Quando se sente um pouquinho criticado, ele vira o Lula fera e ódio. Não quer o segundo turno porque tem debate, é obrigado a se expor. Aparecer na TV produzido e editado, pré-gravado, é uma coisa. Ir num debate em que terá de responder perguntas de frente é muito difícil para ele, tem coisas que não dá para responder. Ele está apavorado ¿ reagiu o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE).

E acrescentou:

¿ As pesquisas mostram crescimento constante e consistente de Alckmin. Se continuar, vamos com certeza estar passando nos próximos dez dias dos 30% e isso já dá segundo turno.

No comício em Brasília, Alckmin lembrou a Operação Tapa-Buracos, do governo federal, que começou no início deste ano.

¿ Nem tapar buraco o governo consegue! O tucano confirmou que foi ao Maranhão depois de ver reportagem do ¿JN¿. Disse que andou de mototáxi e se definiu como um motoqueiro.

¿ O povo saía na rua e dizia: doutor, jogaram essa piçarra (espécie de areia branca) aqui ontem só para passar o ônibus do Pedro Bial. Uma vergonha! ¿ disse Alckmin.

O presidente Lula não fez campanha ontem e passou o dia em Brasília. Anteontem, ele visitou obras da BR-101 em Santa Catarina.

O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, disse que Alckmin adotou uma atitude infantil ao ir ao Maranhão e que o tucano quis reagir à carta do ex-presidente Fernando Henrique, que fez críticas ao governo e também ao PSDB.

¿ Tem outro problema e não diz respeito a nós: o quadro político que se criou a partir da carta de Fernando Henrique. Foi uma atitude infantil do candidato de ir atrás de da televisão, mas considero que se trata de uma resposta a Fernando Henrique e que se trata do fato de ele não ter melhores argumentos políticos a apresentar no programa. A crise está no reino tucano, não do nosso lado ¿ disse Tarso.