Título: AMERICANA DÁ RECADO AOS EUROPEUS
Autor: Eliane Oliveira e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 11/09/2006, Economia, p. 15

Desenvolvimento é igual a acesso a mercados¿, diz Susan Schwab

Acuada pelos líderes do G-20 e pela União Européia (UE), que responsabilizam os EUA pela suspensão das negociações, a representante de Comércio da Casa Branca, Susan Schwab, esforçou-se para mostrar que seu país está empenhado na retomada da Rodada de Doha. Ela repetiu diversas vezes que o mandato da rodada é pelo desenvolvimento econômico e que isso significa, necessariamente, acesso a mercados ¿ num recado direto ao protecionismo agrícola europeu.

¿ Para a rodada ser bem-sucedida, tem que ser ambiciosa, robusta e balanceada. Desenvolvimento é igual a acesso a mercados ¿ afirmou.

Segundo diplomatas que participaram das reuniões com Schwab, os EUA não deram qualquer passo adiante. A própria representante americana afirmou que, desde a reunião de Genebra, em julho, seu país sinaliza que só vai fazer algum movimento se receber algo em troca em acesso a mercados.

Na avaliação de Schwab, há pontos nebulosos nas ofertas dos outros parceiros no que diz respeito ao tratamento a produtos agrícolas sensíveis. Segundo ela, as propostas que estão na mesa prevêem flexibilidades que, se usadas de forma abusiva, vão mascarar os cortes propostos nas tarifas de importação. Schwab disse ainda que, para as negociações serem retomadas, é preciso uma melhor oferta em produtos industrializados, referindo-se, nesse caso, aos países do G-20.

Em Genebra, os EUA condicionaram a redução de seus subsídios domésticos à agricultura a que outros parceiros tomassem a mesma atitude, dando a entender que isso valeria também para países em desenvolvimento ¿ o que criou um embate com a Índia, protecionista nesta área.

O ministro da Indústria e Comércio da Índia, Kamal Nath, perguntado se seu país precisaria de proteção na agricultura, uma vez que a economia indiana cresce a um ritmo de 8% ao ano, foi enfático:

¿ Na Índia, temos 300 milhões de pessoas na pobreza, vivendo com menos de US$2 por dia. Se isso não for motivo suficiente, há mais de 600 milhões de pessoas que sobrevivem da agricultura familiar. Não estamos falando apenas de livre comércio, mas de comércio justo. (Eliane Oliveira e Luciana Rodrigues).