Título: TUDO DEVERIA TER MUDADO, MAS NÃO MUDOU
Autor: Mariana Timóteo da Costa
Fonte: O Globo, 11/09/2006, O Mundo, p. 19

¿Esta é a mais famosa foto que ninguém viu¿ é como o fotógrafo Richard Drew, da Associated Press, se refere à sua foto de uma vítima não identificada do World Trade Center saltando para a morte no 11 de Setembro. Ela apareceu em alguns jornais, inclusive o ¿New York Times¿, no dia 12 de setembro de 2001, mas logo foi arquivada. ¿No dia mais fotografado e filmado da história mundial, as imagens de pessoas saltando foram as únicas que se tornaram, por consenso, tabus¿, escreveu Tom Junod na revista ¿Esquire¿.

Cinco anos depois, a foto de Drew continua sendo um terrível artefato do dia que deveria ter mudado tudo, mas não mudou. Mas há outra foto tabu do 11 de Setembro, igualmente chocante a seu modo, tanto que Thomas Hoepker, da Magnun Photos, a manteve escondida por quatro anos. Esta foto pode agora ser encontrada no livro de David Friend, ¿Watching the world change¿ (¿Vendo o mundo mudar¿). Ela mostra cinco jovens no Brooklyn, aparentemente matando o tempo depois do almoço, aproveitando o sol do fim de verão e conversando enquanto cascatas de fumaça engolem Manhattan ao fundo.

Hoepker achou seus personagens perturbadores. ¿Eles estavam totalmente relaxados, como numa tarde normal¿, disse ele a Friend. ¿É possível que tenham perdido amigos e que se importassem com isso, mas não pareciam afetados.¿ O fotógrafo não publicou a foto porque ¿não precisávamos vê-la naquela oportunidade.¿

¿ Provocaria as emoções erradas ¿ diz ele. ¿ Mas, com o tempo, ela ganhou importância.

Sob a perspectiva do quinto aniversário da data, a foto de Hoepker é tão antecipatória quanto importante. Mesmo sendo tão traumático, o 11 de Setembro desaparecia rapidamente para muitos. Os EUA são um país que gosta de seguir adiante, e rápido. Os jovens da foto de Hoepker não são necessariamente duros de coração. São apenas americanos. Nestes cinco anos, a capacidade dos americanos de sacudir a poeira e seguir em frente explica tanto o que deu certo como o que deu errado no nosso caminho para o estado dividido e desanimado no qual nosso país se encontra hoje.

O que deu certo: os terroristas não conseguiram quebrar os EUA. O ¿novo¿ normal durou dez minutos, exceto nos check-ins de aeroportos. A economia, com todos os seus problemas, não foi destruída. A cultura, para o bem ou para o mal, permaneceu intacta. Levou apenas quatro dias para as TVs voltarem a ter comerciais.

Para aqueles diretamente afetados pelos ataques, isto pode ser difícil de aceitar. Em Nova York, ser politicamente correto sobre o 11 de Setembro ainda é obrigatório.

Mas mesmo que celebremos esta resistência a parar por causa do ataque, isto tem um preço: o esquecimento. O que esquecemos rápido demais foi a expansão do afeto e da unidade que se espalhou depois dos atentados.

A destruição desta unidade, no país e no mundo, é um motivo para se lamentar agora tanto quando o ataque em si. Da mesma forma como não podemos nos esquecer do 11 de Setembro, não podemos nos esquecer da única coisa boa que surgiu do horror, a unidade.

Pouco tempo depois dos ataques, fotos do presidente no avião presidencial no dia 11 de Setembro eram vendidas numa campanha para arrecadar fundos para o Partido Republicano e a Casa Branca exibiria imagens do 11 de Setembro de comerciais de TV.

Agora se passaram cinco anos. O discurso do medo continua. Uma guerra contra um país que não nos atacou no 11 de Setembro também. Continuamos caminhando, mas não se pode dizer que estamos indo para a frente.

FRANK RICH é colunista do ¿New York Times¿