Título: Sinais do que virá
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 12/09/2006, O GLOBO, p. 2

Na seqüência da carta aberta de Fernando Henrique, o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, voltou a defender o impeachment de Lula. O escândalo do mensalão não dá mais caldo político, mas agora surge o caso dos folhetos de propaganda do governo que teriam sido entregues diretamente ao PT. Já Fernando Henrique condenou a proposta de concertação, ou entendimento, do ministro Tarso Genro.

É possível que o ex-presidente, com a carta aberta do dia 7 e outras manifestações, esteja reagindo também a essa possibilidade, a de alinhamento de setores da oposição e de seu partido com o governo Lula num eventual segundo mandato. Em artigo publicado ontem no portal IG, ele diz que agora é tarde, que Lula perdeu duas oportunidades para buscar um pacto: em 2003, logo depois da transição civilizada, e em 2005, no auge da crise, quando poderia ter apresentado uma agenda para o país.

A carta de FH, com a fartura de interpretações que já produziu, foi criticada ontem pelo governador de Minas, Aécio Neves. Comedidamente, como é de seu estilo mas, foi o primeiro grão-tucano a fazer restrições públicas ao documento, que, por seu implícito ceticismo, criou mais dificuldades para a campanha de Geraldo Alckmin. Seria precipitado dizer que a pregação de FH levará a um racha no campo da oposição e no PSDB, mas é difícil acreditar que prefeitos e governadores tucanos queiram ter uma relação de total beligerância com um eventual segundo governo de Lula.

Ainda assim, Lula está sendo avisado do que o espera, se for reeleito. Quando Tasso fala em impeachment, expressa o sentimento de uma parte importante da oposição, que hoje se arrepende de não ter levado essa iniciativa adiante no auge do escândalo, mais precisamente quando Duda Mendonça foi à CPI dos Correios informar que recebeu pagamentos irregulares ¿ por caixa dois e através de conta no exterior ¿ por serviços prestados à campanha presidencial de Lula em 2002.

Embora não tenha o impacto das denúncias de Roberto Jefferson, o caso das cinco milhões de cartilhas contratadas pela Secom para divulgar ações do governo, das quais dois milhões teriam sido entregues diretamente ao PT, pode servir, sim, à abertura de um processo de impeachment. Como diz o relator do processo no TCU, ministro Ubiratan Aguiar, houve confusão entre o interesse do governo e o do partido.

Mas há uma distância entre possibilidade jurídica e viabilidade política. Esta última dependerá da correlação de forças na Câmara, que é onde um pedido de abertura de processo seria inicialmente votado. Logo, essa possibilidade ainda depende da escolha dos deputados federais pelos eleitores. Se o governo tiver maioria, se conseguir construí-la através de uma coalizão com o PMDB, terá condições de resistir, se for o caso. A oposição, por sua vez, só fará essa investida se tiver os votos necessários. Um forte movimento de massas poderia influenciar a Câmara, mas, se ele não surgiu em 2005, em 2007 é que não deve ser possível.

Os governistas acham que a oposição fala em impeachment para assustar os eleitores de Lula. Mas a volta do assunto em plena campanha eleitoral dá uma medida das altas temperaturas que se seguirão ao pleito.