Título: Revólver de coronel do Carandiru desaparece
Autor: Tatiana Farah
Fonte: O Globo, 12/09/2006, O País, p. 14

Ele pode ter sido morto pela própria arma; das sete que tinha em casa, só seis foram localizadas pela polícia

SÃO PAULO. A Polícia Civil de São Paulo suspeita que o deputado estadual coronel Ubiratan Guimarães (PTB), comandante da operação que resultou no massacre de 111 presos no complexo do Carandiru, tenha sido morto com seu próprio revólver calibre 38, que ainda não foi localizado. Ubiratan tinha sete armas em casa, mas a perícia localizou só seis. Oficialmente, a polícia diz que não há suspeitos. A advogada Carla Cepollina, namorada de Ubiratan, admitiu à polícia que tivera uma briga com ele na noite de sábado.

O assassinato ocorreu sábado à noite, mas só foi descoberto na noite de domingo, 25 horas depois. A polícia descartou latrocínio (assalto seguido de morte) e execução. Há suspeita de crime passional. Está afastada a hipótese de o assassinato ter sido cometido pela facção criminosa que tem feito ataques a São Paulo. A facção se formou a partir do massacre do Carandiru em 1992, quando 111 detentos foram mortos pela polícia, sob o comando de Ubiratan.

O delegado Armando de Oliveira Costa Filho disse que Carla terá de entregar à polícia as roupas que vestia no dia da morte do namorado para que sejam periciadas. Carla foi a última pessoa vista em público com o coronel. Ontem, em depoimento informal à polícia, ela negou que tenha cometido o crime. Carla tem 42 anos e namorava o deputado, de 63 anos, há dois anos.

Antes de Carla deixar o apartamento do coronel na noite de sábado, o casal brigou porque ele recebeu um telefonema de uma mulher, segundo ela disse à polícia ontem. Policiais suspeitam que a mulher seria uma policial federal. Foram ouvidos três funcionários do prédio e uma vizinha. Um dos porteiros contou que Carla deixou o apartamento por volta de 21h de sábado, horário aproximado em que o crime foi cometido, segundo o delegado Armando de Oliveira Costa Filho.

Corpo foi achado por assessores

Uma vizinha disse que, por volta das 19h de sábado, ouviu um estampido semelhante ao disparo de uma arma, mas pensou que tivesse sido uma janela se quebrando. Apenas quando assessores do parlamentar abriram o apartamento com uma chave reserva, por volta das 22h de domingo, é que verificaram que ele estava morto. Para a polícia, um exame residuográfico não seria eficaz de identificar o assassino, pois já se passou muito tempo desde o disparo.

Segundo o deputado Vicente Cascione (PTB-SP), que chegou ao local do crime antes da Polícia Civil, Ubiratan estava deitado de barriga para cima no tapete da sala do apartamento de um quarto. Ele estava enrolado numa toalha como se tivesse acabado de sair do banho.

O coronel levou um tiro no abdômen. A bala deve ter atingido uma artéria, já que a morte foi instantânea, perpassou o corpo e foi encontrada no sofá. Segundo fontes na polícia, ele devia estar se levantando do sofá quando foi atingido. No apartamento a polícia recolheu seis armas: quatro revólveres calibre 38, uma escopeta calibre 12 e uma pistola 7.65 mm. Um revólver 38 não foi localizado. O dinheiro, cerca de R$180, foi encontrado na mesa da sala. Aparentemente, nada foi roubado.

Em presídios de São Paulo, presos marcaram a morte do coronel batendo panelas nas grades das celas. A Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa protocolou pedido do deputado Romeu Tuma Jr. (PMDB) para que um grupo de parlamentares acompanhe as investigações.

COLABOROU: Ricardo Galhardo