Título: MERCADO JÁ PREVÊ QUE INFLAÇÃO DE 2007 SERÁ DE 4,4%, ABAIXO DA META
Autor: Ronaldo D'Ercole e Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 12/09/2006, Economia, p. 23

Para este ano, previsão do IPCA cai. Presidente do BNDES espera novo corte de juros

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O mercado passou a prever que a inflação oficial chegará ao fim de 2007 abaixo da meta de 4,5% estabelecida pelo governo, que orienta a política de juros conduzida pelo Banco Central (BC). O relatório ¿Focus¿, do BC, divulgado ontem, mostrou que os especialistas esperam que a variação dos preços medida pelo IPCA seja de 4,4% no próximo ano, abaixo dos 4,5% projetados nas últimas 55 semanas. O bom comportamento dos preços, influenciado sobretudo pelo câmbio, explica a mudança.

¿ Todo mundo estava revendo (para baixo) a inflação de 2006 e não mexia na de 2007, que acabava embutindo uma aceleração da variação dos preços que não é verdadeira ¿ afirmou a economista-chefe do ABN Amro, Zeina Latif, para quem o IPCA encerrará 2007 ainda mais baixo, em 4%.

Para 2006, mostrou o ¿Focus¿, o mercado continuou puxando para baixo seus cálculos pela quarta semana consecutiva, de 3,63% para 3,32%. A meta de 2006 também é de 4,5%. Além do dólar mais fraco, que acaba fazendo cair o custo de produtos como alimentos, Zeina lembra que os preços administrados também ajudam a segurar a inflação. Tarifas, como a de energia elétrica, tiveram até queda.

Não por menos, o ¿Focus¿ mostrou que as expectativas para a taxa básica de juros (Selic), hoje em 14,25% ao ano, também mudaram. Em 2006, o mercado espera que os juros encerrem a 13,75%, 0,25 ponto percentual menos que na previsão anterior. Para 2007, espera-se 12,75%, num ajuste semelhante.

A surpresa preparada pelo BC, ao cortar em 0,5 ponto a Selic, há duas semanas, levou o mercado a rever as projeções, já que esperava redução de apenas 0,25 ponto naquele momento.

O presidente do BNDES, Demian Fiocca, afirmou ontem que não haveria razão para interromper o corte da Selic. Segundo ele, países com condições fiscais semelhantes às brasileiras oferecem juros reais (descontada a inflação) entre 2% e 4% ao ano, enquanto no Brasil a taxa continua acima dos 10%.

¿ Não há razão para acreditar que o país não vai continuar a reduzir os juros. Já temos condições de manter a trajetória de queda ¿ afirmou, em palestra a empresários na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

O mercado está pendendo para cortes de 0,25 ponto em outubro, mas ninguém descarta que o BC possa repetir a redução de 0,5 ponto. Para José Luciano Costa, economista sênior da Unibanco Asset Management, agora existe a possibilidade real de que cortes menores ocorram só em novembro.

Quanto ao PIB, a expectativa para 2007 ficou em 3,5%, pouco mais do que os 3,20% projetados para este ano.

COLABOROU Aguinaldo Novo