Título: Aécio: mágoa e incômodo com avaliação de FH
Autor: Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 13/09/2006, O País, p. 8

Governador mineiro, candidato à reeleição, não gostou de ex-presidente ter dito que ele pode virar 'inocente útil do PT'

BELO HORIZONTE e BRASÍLIA. A interlocutores o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), manifestou ter ficado surpreso e incomodado com as avaliações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, publicadas ontem na coluna de Merval Pereira, de que ele poderia virar um "inocente útil do PT". Aécio voltou a criticar o tom do ex-presidente e disse que discutir agora se o partido errou ou não lá atrás "não acrescenta nada". E reclamou que não é hora de fazer marola para prejudicar a campanha de Geraldo Alckmin à Presidência.

O ex-governador classificou de bobagem o debate, iniciado por Fernando Henrique, sobre se o PSDB errou em 2005 no episódio envolvendo as denúncias de caixa dois do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG).

"Polêmicas que não ajudam não devem ser estimuladas"

Aécio disse ontem, em Diamantina (MG), porém, que não vê prejuízos para a campanha de Alckmin:

- Eu não acho que tenha sido equivocado (a ação do PSDB no episódio Azeredo), até porque acho que ainda estamos no páreo, disputando efetivamente essas eleições. Mas se você achar agora que não avançou tanto porque foi um equívoco lá atrás, ou mais atrás ainda, isso é bobagem. Nessa hora nós temos que ter firmeza, falar na mesma direção, evitar criar marolas desnecessárias e trabalhar, porque é muito possível, e eu diria hoje que é até provável, que tenhamos segundo turno.

Fernando Henrique disse que temia que Aécio virasse um instrumento do que chamou de forças do atraso, referência às tentativas de Lula de aproximar o governador mineiro do PMDB. Indagado se estava preocupado com a opinião do ex-presidente, Aécio evitou confronto.

- Eu acho que polêmicas que não ajudam neste momento não devem ser estimuladas. Tenho um enorme respeito pelo presidente, é meu amigo pessoal. Estou hoje empenhado numa coisa: avançarmos em Minas Gerais para dar a Geraldo Alckmin um ótimo resultado no estado - disse Aécio, que no dia anterior havia afirmado que a carta escrita pelo ex-presidente era uma ação desagregadora.

Numa entrevista à TV Globo Minas, ontem à noite, Aécio voltou a falar das declarações do ex-presidente, afirmando que qualquer discussão sobre 2010 agora é um grande equívoco:

- Toda precipitação sobre 2010 é um equívoco primário. Não contem comigo para pôr lenha nessa fogueira. Não vou alimentar discussões laterais, até porque o presidente Fernando Henrique é uma das pessoas mais próximas que tenho no PSDB - disse, refutando especulações sobre a disputa interna entre ele e Serra para a disputa presidencial de 2010:

- Não acredito que Serra e eu tenhamos qualquer discussão sobre isso. Pelo contrário, somos aliados, parceiros.

"A campanha está entrando no seu melhor momento"

Perguntado se há uma guerra entre ele e FH, disse:

- Guerra? Eu sou homem de paz. Não tem guerra nem razão para isso. O presidente Fernando Henrique é uma grande figura - afirmou o governador mineiro, que não quis responder sobre a possibilidade de ser candidato por outro partido.

- Eu não trato disso. Estou muito bem, feliz no PSDB, onde só fiz amigos. Eu não estou tratando de outra coisa hoje senão das eleições que ocorrerão no dia 1º de outubro. Essas análises, essas reflexões podem até ser necessárias, conforme documento do presidente, mas acho que poderão ser úteis a uma reflexão maior após as eleições. Tudo o que se utilizar pode de alguma forma afetar o ambiente eleitoral.

Manifestações de outros tucanos mostram que está longe de acabar a polêmica criada no PSDB por causa da carta aberta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O coordenador-executivo da campanha tucana, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), entrou ontem em campo para pôr panos quentes e minimizar a troca de farpas entre o Aécio Neves e Fernando Henrique. Mas de público evitou entrar no mérito das declarações dos dois. Guerra preferiu exaltar o bom momento vivido pela campanha de Alckmin:

- A campanha está entrando no seu melhor momento. Estamos ganhando votos, enquanto o Lula perde. O que posso afirmar é que o governador Aécio está colaborando muito para que cheguemos ao segundo turno.

A maioria dos tucanos concorda em grande parte com a reflexão feita pelo ex-presidente Fernando Henrique, mas muitos temem os efeitos do debate suscitado neste momento. Candidato a vice-governador na chapa de José Serra ao governo de São Paulo, o deputado Alberto Goldman só pretende entrar nessa discussão após as eleições.

- Eu e muito outros estamos fazendo campanha para ganhar a eleição. Outras questões, só vou discutir depois das eleições. Minha preocupação neste momento é buscar votos para eleger José Serra governador de São Paulo e Geraldo Alckmin presidente da República.

(*) Enviado especial