Título: Discurso de Bush sob fogo democrata
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Fonte: O Globo, 13/09/2006, O Mundo, p. 34

Governo admite polêmica em mensagem sobre 11/9

Um dia depois das homenagens às vítimas dos atentados de 11 de Setembro de 2001, George W. Bush se viu no meio de uma nova polêmica. Os democratas, que podem retomar o controle do Congresso nas eleições de novembro, acusaram ontem o presidente americano de usar o pronunciamento da noite de segunda-feira para tentar tirar proveito político da data. Os ataques foram tão fortes que levaram a Casa Branca e parlamentares republicanos a saírem em defesa do presidente.

O porta-voz Tony Snow reconheceu que havia "três ou quatro frases" no discurso de 17 minutos que poderiam ser consideradas polêmicas, mas afirmou que Bush não tentou ser partidário:

- Esse não foi um discurso elaborado para destacar ninguém por razões partidárias, mas para apresentar as reflexões honestas do presidente e as reações ao que aconteceu desde o 11 de Setembro de 2001 - disse o porta-voz da Casa Branca.

Para Kennedy, Bush deveria sentir vergonha

A explicação se seguia às críticas dos líderes democratas no Senado, Harry Reid, e na Câmara, Nancy Pelosi. Eles afirmaram que Bush deveria ter tentado resgatar o espírito de união nacional no discurso, mas que o presidente estava mais concentrado em "permanecer no curso do Iraque e em fazer política". "O povo americano merecia uma noite melhor. Merecia uma chance de retomar o senso de união, de propósito e de patriotismo que desapareceu cinco anos atrás", disse Reid, num comunicado.

O senador Edward Kennedy, um dos mais influentes políticos democratas, foi ainda mais duro: "O presidente deveria estar envergonhado por usar um dia de luto para fazer um discurso escrito para buscar apoio para uma guerra no Iraque que ele admite não ter relação com o 11/9", disse em nota.

Para republicanos, o fato de os democratas criticarem o presidente logo após o discurso sugere que foram eles a introduzir a política na questão:

- Ouço colegas democratas e imagino se estão mais interessados em proteger os terroristas do que o povo americano - criticou o líder da maioria na Câmara, o republicano John Boehner.

No discurso, Bush descreveu um inimigo brutal, que continuava determinado a matar americanos. Ele disse que o Iraque era parte da resposta americana às ameaças no exterior. Isso justificava uma ofensiva contra os inimigos antes que eles ferissem americanos, o que significava remover o Talibã do poder no Afeganistão, perseguir membros da al-Qaeda e buscar mudanças no regime iraquiano, declarou o presidente.

- Se não derrotarmos os inimigos agora, vamos deixar nossos filhos enfrentarem um Oriente Médio controlado por Estados terroristas e ditadores radicais com armas nucleares - disse Bush.

"O discurso foi o ponto alto de duas semanas de esforços para reunir a nação em torno de suas políticas e da Presidência", analisou ontem uma reportagem do "Washington Post". "Cinco anos após aquele dia inapagável, no entanto, a capacidade do presidente de comover o público se reduziu."

Poder da retórica do presidente em declínio

Com a guerra cada vez mais impopular e democratas ameaçando conquistar dos republicanos a maioria em uma ou nas duas câmaras, Bush insistiu, durante o discurso, na teoria de que quem pede a retirada das tropas do Iraque estaria favorecendo os terroristas.

- O poder de sua retórica está em declínio - disse Max Boot, do Conselho de Relações Internacionais, um neoconservador em geral simpático às políticas de Bush. - Há uma necessidade de mais feitos e não de mais palavras. Estamos perdendo uma guerra e não há jeito de contornar isso.

A troca de críticas deixa claro que Iraque e terrorismo continuarão a ser temas importantes nas eleições de novembro, que renovarão parte do Senado, da Câmara de Representantes e de governos estaduais. Ontem, nove estados americanos realizaram eleições primárias para escolher candidatos.

Frases da discórdia

"Se não derrotarmos os inimigos agora, vamos deixar nossos filhos enfrentarem um Oriente Médio controlado por Estados terroristas e ditadores radicais com armas nucleares"

"Pior seria achar que, se sairmos, os terroristas nos deixariam em paz. A segurança dos EUA depende do resultado das batalhas nas ruas de Bagdá"

"Os EUA não pediram essa guerra, e todo americano deseja que acabe. Eu também desejo. Mas a guerra não acabou e não acabará até que nós ou os terroristas sejam vitoriosos"

GEORGE W. BUSH Presidente dos EUA