Título: Síria impede atentado a embaixada dos EUA
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Fonte: O Globo, 13/09/2006, O Mundo, p. 38
Condoleezza agradece, mas ataque também motiva troca de acusações entre os dois países sobre luta contra radicais
DAMASCO. Homens armados com metralhadoras e granadas tentaram invadir ontem de manhã a embaixada dos Estados Unidos em Damasco, na Síria, mas foram impedidos por soldados sírios. No ataque, realizado um dia depois das cerimônias em memória aos cinco anos dos atentados do 11 de Setembro, os terroristas explodiram uma van e tentaram detonar outra, sem sucesso. Dos quatro guerrilheiros, três foram mortos e um, ferido e detido pelas autoridades. Um guarda sírio morreu e 13 pessoas ficaram feridas. Nenhum dos 40 funcionários da embaixada foi ferido.
Segundo relatos de testemunhas, uma van com explosivos foi colocada na entrada principal da embaixada. Os detonadores da van, aparentemente, falharam, mas um carro usado no ataque explodiu. Os quatro terroristas gritavam "Deus é grande" enquanto atacavam a embaixada. A troca de tiros durou 30 minutos.
- Vi dois homens em roupas civis e armados com granadas e armas automáticas - disse Ayman Abdel-Nour, um analista político sírio que passava perto da embaixada no momento do ataque. - Eles correram para o prédio gritando slogans religiosos enquanto atiravam.
Imagens de TV mostraram poças de sangue no chão e guaritas e carros marcados por dezenas de marcas de tiros.
O governo disse que está investigando o ataque, mas acredita que o atentado foi realizado por um grupo radical islâmico chamado Jund al-Sham (Soldados do Levante). O grupo realizou três ataques ano passado no Líbano, matando três pessoas. Autoridades sírias atacaram uma célula do Jund al-Sham na cidade de Hamah, no ano passado, matando cinco terroristas. Segundo Damasco, o grupo tem ligações com a rede terrorista al-Qaeda, de Osama bin Laden.
Já os americanos afirmaram ontem que ainda é muito cedo para dizer quem é o responsável pelo ataque.
A primeira reação americana foi de agradecimento ao governo da Síria pela defesa de sua embaixada. A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, escolheu cuidadosamente as palavras de agradecimento às forças de segurança da Síria.
- Penso que os sírios reagiram a esse ataque de um modo que ajudou a manter a segurança de nosso povo, e apreciamos muito isso - disse ela.
Para Síria, política dos EUA aumenta radicalismo
Mas logo as declarações dos dois países se tornaram mais políticas. Fontes do Departamento de Estado disseram que a Síria nada mais fez do que a sua obrigação de proteger representações diplomáticas.
- Os agentes sírios vieram em auxílio dos americanos. O governo dos EUA agradece a assistência dos sírios que enfrentarem os terroristas - disse o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, para logo mudar o tom, exortando a Síria a se aliar aos EUA. - Esperamos que eles se tornem um aliado e façam a escolha de lutar contra os terroristas. Parem de dar guarida a grupos terroristas, parem de ser agentes de fomento ao terror, e trabalhem conosco na luta contra o terror, como fez a Líbia.
Damasco não demorou a responder.
"O que ocorreu recentemente no Líbano, nos territórios palestinos e no Iraque está exacerbando a luta contra o terrorismo mundial", disse a embaixada síria em Washington, em nota. "Os EUA devem aproveitar esta oportunidade para rever suas políticas para o Oriente Médio e começar a buscar enfrentar as causas do terrorismo, e conseguir uma paz abrangente na região."