Título: GREVE PARALISA EDUCAÇÃO E SAÚDE NO CHILE
Autor:
Fonte: O Globo, 13/09/2006, O Mundo, p. 36

Um dia depois de violentos protestos, sindicatos endurecem contra o governo, que teme revolta maior no país

SANTIAGO. Milhares de professores se uniram aos profissionais de saúde chilenos e aumentaram, ontem, a pressão por melhores salários e condições de trabalho sobre o governo da presidente Michelle Bachelet, realizando greves em todo o país. A paralisação no Chile ocorre um dia depois de violentos confrontos nas ruas da capital, na segunda-feira, durante protestos no aniversário do golpe militar de 11 de setembro de 1973.

Pelo menos 50 pessoas (seis policiais) ficaram feridas, incluindo uma menina de 6 anos, baleada na cabeça, no choque entre manifestantes e polícia. Homens encapuzados saquearam dezenas de estabelecimentos comerciais em Santiago e promoveram incêndios nas ruas da capital. Segundo as autoridades chilenas, mais de 230 pessoas foram presas.

Sindicatos: crescimento econômico justifica greves

Os sindicatos argumentam que a greve é justa, já que o Chile vem crescendo economicamente e, por isso, tem condições de dar aumento aos trabalhadores. A estimativa para 2006 é que o país registre um superávit de US$10 bilhões em sua balança comercial, devido à alta do preço do cobre, maior produto de exportação do país para o mercado internacional.

O Colégio de Professores, que agrupa os profissionais do ensino, afirmou que 80% de seus integrantes pararam. O grupo lembrou que não reivindica apenas salários, mas uma mudança no sistema de privatização do ensino que, segundo ele, o governo pretende fazer "retrocedendo à época da ditadura".

A subsecretária da Educação, Pilar Romanguera, qualificou a greve de "injusta, cujos maiores prejudicados são os alunos".

- Os professores são a classe que mais recebeu aumento nos últimos anos - disse, ressaltando que as negociações com o sindicato ainda estão "em fase inicial". - Peço somente que os jovens ajam com prudência e não se deixem levar pelos grêmios - solicitou.

O governo teme que manifestações como as ocorridas há dois meses se repitam no Chile. Na ocasião, milhares de estudantes foram às ruas pedir reformas no sistema educacional, que, para muitos, ainda adota várias características da época da ditadura, que durou até 1990.

Governo vai investigar três mortes do fim de semana

Roberto Alarcón, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Saúde, afirmou que 30 mil profissionais continuam em greve. Ontem, as paralisações completaram uma semana. O Ministério da Saúde afirma que as negociações com o sindicato estão em andamento, mas que o governo vai querer investigar se as mortes de três pessoas em hospitais chilenos, no último fim de semana, estão relacionadas à greve e à conseqüente falta de atendimento.

Ontem, vários profissionais em greve e estudantes se reuniram em manifestações na Praça das Armas, em Santiago, mas nenhum incidente mais grave foi registrado. Se suas demandas não forem atendidas, os grupos estão convocando uma greve geral no país para o dia 26.