Título: Bancos e analistas divergem sobre os efeitos do pacote habitacional
Autor: Ronaldo D'Ercole, Aguinaldo Novo e Luciana Casemir
Fonte: O Globo, 14/09/2006, Economia, p. 28

Mercado financeiro começa a lançar novas modalidades de empréstimos

SÃO PAULO e RIO. No dia seguinte ao anúncio do pacote para habitação, não havia consenso sobre o real impacto que as medidas terão sobre o custo dos financiamentos para a compra da casa própria. Enquanto os bancos, que começam a lançar novos financiamentos, diziam que o pacote atende a antigos pleitos do setor e deve propiciar a queda nos juros dos financiamentos, analistas recomendavam cautela aos candidatos a compra de um imóvel.

O Santander Banespa anunciou ontem que deverá reduzir as taxas da SuperCasa 20, uma linha prefixada de crédito para imóveis a partir de R$40 mil com prazo de 20 anos. Só que esse financiamento hoje custa juros de 16,95% ao ano, e cairiam para 14,3%, exatamente o custo atual dos financiamentos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) ¿ juros de 12% mais 2,4% da TR.

O diretor de crédito Imobiliário do HSBC, Roberto Sampaio, disse que o pacote deve desencadear uma maior oferta de financiamentos à compra de imóveis, mas que o banco deve dar prioridade à criação de linhas de crédito consignado.

¿ Esse financiamento para o funcionalismo é o melhor dos mundos. Mas mesmo entre os funcionários da iniciativa privada, onde não há estabilidade de emprego, há redução de risco e essas linhas devem custar um pouco menos que as convencionais ¿ disse o diretor.

CEF também lançará produto dentro das novas regras

Segundo Fernando Nogueira, vice-presidente de Finanças da CEF, até o início de setembro, o banco deverá ter pronto um pacote de produtos pelas novas regras anunciadas pelo governo para o incentivo à habitação.

¿ A Caixa foi pioneira no crédito consignado. Então, estamos preparados para agir com rapidez no momento em que o governo liberar o desconto em folha ¿ garantiu o superintendente Regional da Caixa, José Domingos Vargas.

O presidente da Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Décio Tenerello, espera redução imediata de juros para imóveis avaliados em até R$150 mil. Essa taxa, segundo ele, deve recuar de cerca de 14% para 12% ao ano, nos contratos sem a indexação da TR. No caso dos imóveis com preço acima de R$150 mil, sua expectativa é de ¿um corte mais gradual¿.

¿ O maior benefício do pacote é poder financiar imóveis, sem cobrar TR, usando recursos da caderneta de poupança. Alguns bancos já contam com esse tipo de linha de crédito, mas como usam recursos próprios, de tesouraria, os juros do financiamento ainda são mais elevados ¿ disse Tenerello.

A Anefac, associação que reúne profissionais de finanças e contabilidade, adverte, porém, que a possibilidade que o pacote dá aos bancos de elevar de 12% os juros máximos dos financiamentos habitacionais para algo entre 14% e 14,5% ao ano, na prática pode manter inalterado os custos do crédito.

¿ Quem pretende adquirir um financiamento imobiliário deve esperar um pouco mais e aguardar a implantação das medidas e, principalmente, a competição entre os bancos ¿ diz o vice-presidente da Anefac, Miguel José de Oliveira.

Já para o presidente da Abecip o financiamento com desconto em folha não deverá ter aceitação tão fácil entre os bancos, em razão dos riscos de inadimplência dos mutuários.

¿ Esse mecanismo vai demorar um pouco mais para andar, já que não resolve o problema do endividamento. Se o mutuário é funcionário público, o risco do banco é quase nulo. Mas isso não ocorre com um funcionário do setor privado.

Quem comprar um imóvel na planta desembolsará um valor menor até a entrega das chaves. É o que prevê Rogério Chor, presidente da construtora CHL, com a nova linha de financiamento direto ao construtor que começará a ser oferecida pela Caixa Econômica Federal.

¿ Hoje o comprador paga até a entrega das chaves cerca de 35% do valor do imóvel. Com o crédito para a obra garantido, o construtor poderá baixar esse percentual para 25%, o que resultaria em prestações até 25% mais baixas ¿ avalia Chor.

COLABOROU Ana Cecília Santos