Título: TIROS E PÂNICO EM MONTREAL
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Fonte: O Globo, 14/09/2006, O Mundo, p. 34

Atirador invade campus de escola, dispara contra alunos, matando um e ferindo 20

MONTREAL

Para um país onde o controle de armas é muito mais rigoroso do que o de seu vizinho, os Estados Unidos, o Canadá viveu ontem um dia de extrema tensão. Pelo menos um homem armado, vestido inteiramente de preto, e com a aparência ¿gélida¿, de acordo com testemunhas, invadiu o Dawson College, no centro de Montreal, abrindo fogo contra os estudantes. Pelo menos duas pessoas morreram no incidente, incluindo o atirador, que foi morto pela polícia. Uma aluna da escola, que abriga cursos técnicos e pré-universitários, de cerca de 20 anos, morreu logo depois de ter chegado ao hospital. Segundo o chefe da polícia da segunda maior cidade canadense, Yvan Delorme, 20 pessoas ficaram feridas, 11 de disparos de bala, e seis encontram-se em estado grave e estavam sendo operadas, na noite de ontem, no Hospital Geral de Montreal. A polícia ainda buscava por mais suspeitos, já que alunos afirmaram terem visto mais de um atirador.

Delorme não comentou, ontem, os possíveis motivos do crime. Mas adiantou que não eram ¿relacionados a ódio nem terrorismo¿. O tiroteio começou por volta das 12h45m no horário local (13h45m em Brasília), ainda no pátio da escola, freqüentada por cerca de dez mil alunos entre 16 e 21 anos. O atirador que acabou sendo morto começou a disparar ainda no pátio, e depois entrou no refeitório, abrindo fogo, em pleno horário de almoço. Segundo Soher Marous, aluno e uma das testemunhas, os tiros perduraram por cerca de meia hora antes da chegada da polícia, e provocaram uma intensa correria dentro e fora da escola. As autoridades isolaram o campus, resgataram alunos que não haviam conseguido escapar e realizaram buscas no local e num shopping center próximo, devido à suspeita de que criminosos pudessem ter fugido.

Escolas registram incidentes violentos

Uma aluna, que estava no pátio quando o atirador passou, antes de entrar no prédio onde funciona o refeitório, disse que viu um homem branco, de cerca de 19 anos, e um ¿corte de cabelo meio estranho¿, carregando uma arma.

¿ Fiquei assustada, mas, mais ainda, perplexa. Como uma pessoa anda por aí com uma arma na mão impunemente? ¿ disse a estudante à rede de TV canadense CBC.

¿ Estava próximo à porta da frente do prédio, quando o atirador entrou. Vi e ouvi pelo menos 20 tiros, disparados de uma arma que não era automática, acho que era um rifle. Ele saiu correndo atrás de todos. Foi um caos. Corremos para avisar aos alunos para que se protegessem como pudessem ¿ relatou o aluno Marous.

O incidente gerou críticas entre profissionais de educação e criminalistas. As escolas do Canadá, país considerado seguro, vêm registrando mais incidentes violentos a cada ano. Stu Auty, presidente da Canadian Safe School Network, organização que analisa a segurança nas escolas, afirmou que a maioria dos casos envolve ¿facadas e tiros, com armas leves¿.

¿ Crimes com armas automáticas, como ocorrem em escolas americanas, nós não registramos ¿ declarou, embora reconheça que ¿mais alunos estejam indo armados para a escola¿.

A grande questão, que os especialistas esperam que comece a ser debatida no país depois do incidente de ontem, é como essas armas são obtidas. Desde de um massacre na Escola Politécnica em Montreal, em que 14 mulheres foram assassinadas em 1989, o lobby antiarmamentista intensificou-se no país. Desde os anos 90 há rígidas leis para compra e porte de armas.

¿ Estou surpreso. Os habitantes da província de Québec (onde fica Montreal) orgulham-se de viverem numa sociedade pacífica e pacifista. Somos, por exemplo, os principais opositores no país do envio de tropas canadenses ao Afeganistão. Mas, depois de ontem, juntamente com o episódio de 1989, a província tornou-se a onde mais aconteceram homicídios em massa no Canadá ¿ disse Jean-Paul Brodeur, da Escola de Criminologia da Universidade de Montreal.

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