Título: DIRETOR DIZ QUE FITAS DO SENADO FORAM APAGADAS
Autor: Chico de Gois
Fonte: O Globo, 15/09/2006, O País, p. 16

Vídeo do circuito interno indicaria se houve queima de arquivo na véspera de operação da PF, como denuncia o MP

BRASÍLIA. O diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, disse ontem que não é possível comprovar se alguém esteve nos corredores e gabinetes da Casa na madrugada do dia 15 de julho, quando a Polícia Federal desencadeou a Operação Mão-de-Obra. Agaciel afirmou que as fitas do circuito interno foram apagadas. O Ministério Público Federal acusa a PF de vazar informações ao Senado antes de realizar uma operação de busca e apreensão na Casa. A PF nega.

¿ Infelizmente, para mim, as fitas ficam à disposição durante 30 dias. Depois desse período são reutilizadas, porque nosso sistema de gravação é antigo ¿ afirmou Agaciel.

Está sendo investigada a formação de cartel de empresas prestadoras de serviços. Segundo o Ministério Público, o próprio diretor do Senado e outros dois funcionários estão entre os investigados na operação, que apura fraudes nas licitações. Agaciel negou que tenha estado no Senado naquela madrugada, depois de ter sido avisado previamente pelo presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), sobre a ação da PF.

¿ Eu nunca estive no Senado na madrugada, em 30 anos de trabalho.

Anteontem, para defender Agaciel, o advogado-geral do Senado, Alberto Cascais, convocou uma entrevista para criticar o Ministério Público e dizer que ofereceu à PF as fitas dos circuitos internos de segurança da Casa.

O Ministério Público afirmou que encontrou os cofres vazios. O diretor do Senado considerou exageradas as declarações dos procuradores.

¿ Não é que os cofres estivessem vazios. É um engano. Os policiais levaram tudo o que queriam referente às licitações. É um exagero dizer isso.

Apesar de o Ministério Público considerar Agaciel suspeito, ele negou que esteja sendo investigado.

¿ Não sou investigado, não sou suspeito. Qual é a acusação contra mim? Não há chance de me culpar de nada. Não sei de onde o Ministério Público tirou a informação que eu sou alvo da investigação.

Segundo os procuradores da República Luciano Rolim e José Alfredo de Paula e Silva, que acusaram a PF de vazamento de informações sigilosas, o elo entre servidores do Senado e empresários que participavam do cartel era Eduardo Bonifácio Ferreira, que trabalhava no gabinete do senador Efraim Morais (PFL-PB), primeiro-secretário da Mesa.

Agaciel afirmou que Ferreira não participava das comissões de licitação porque apenas servidores concursados podem ser indicados. De acordo com o diretor-geral do Senado, Ferreira foi funcionário comissionado da liderança da minoria entre 2003 e 2005.

Ministro pede discussão ¿fraterna¿, e não na mídia

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, defendeu ontem a atuação da PF. Bastos disse que as operações da PF respeitam sempre um mesmo padrão e que a ação realizada no Congresso teve êxito e terminou brilhantemente.

¿ A Polícia Federal já fez quase 300 operações nesses três anos, usando seus métodos e suas adaptações a cada realidade concreta. São operações feitas com inteligência, sem que tenha sido disparado um tiro, e que desbarataram quadrilhas em todo o Brasil, inclusive essa ¿ disse Bastos.

Sobre a afirmação dos procuradores, Bastos disse que os métodos de investigação devem ser discutidos entre as instituições envolvidas, e não pela imprensa.

¿ Não dá para discutir isso pela televisão e pela mídia. Isso tem que ser discutido de uma maneira fraterna entre as entidades que se incumbem de combater o crime no Brasil.

COLABOROU: Evandro Éboli