Título: FUNCIONÁRIOS DA VOLKS APROVAM PLANO DE CORTES
Autor: Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 15/09/2006, Economia, p. 31

Empregados aceitam demissão incentivada de 3.600 em troca de investimentos de R$1 bi em fábrica no ABC paulista

SÃO PAULO. Em assembléia bastante tensa, os empregados da fábrica da Volkswagen de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, aprovaram ontem o Plano de Demissões Voluntárias (PDV) proposto pela montadora, que prevê a dispensa de 3.600 trabalhadores, de um total de 12,4 mil, até o fim de 2008. Em troca, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo, disse que a montadora alemã deverá aprovar investimentos de cerca de R$1 bilhão para que a fábrica comece a produzir dois novos modelos da marca a partir de 2008.

¿ O acordo (aprovado ontem) só vale se a empresa, na Alemanha, aprovar os investimentos ¿ disse Feijóo.

Em comunicado distribuído depois da assembléia, o presidente da Volkswagen no Brasil, Hans-Christian Maergner, não mencionou investimentos, ou cifras. Disse que, com a decisão, os empregados indicam querer assegurar o futuro da fábrica.

¿ Com isso, a Volkswagen do Brasil entra em uma nova fase, em que a retomada de sua rentabilidade por meio de operações mais competitivas se torna uma realidade ¿ acrescentou.

Além da ameaça de fechamento da fábrica, um dos argumentos usados pela empresa para pressionar os empregados a aceitar seu PDV era de que a matriz alemã decidirá sobre sua nova estratégia mundial de investimentos nos próximos dias.

¿Com este acordo, iremos preservar mais de 9.000 empregos nesta unidade, e estaremos garantindo as operações da fábrica Anchieta, com novos investimentos e produtos¿, dizia comunicado assinado por Maergner, que foi distribuído aos empregados horas antes da assembléia da tarde de ontem.

As negociações entre empregados e empresa se arrastavam desde 3 de maio, quando a Volks anunciou o que chamou de ¿segunda fase do plano de reestruturação de suas operações no Brasil¿. Ao contrário da assembléia do fim de agosto, que aprovou por unanimidade a deflagração de uma greve que levou a montadora a elaborar o PDV, ontem a votação foi dividida. Um número expressivo de trabalhadores se opuseram ao plano.

¿ Foi roubado ¿ queixavam-se alguns metalúrgicos depois da votação, enquanto outros questionavam a aprovação pela maioria.

Nas contas do sindicato, dos cerca de 10 mil trabalhadores presentes, 70% teriam concordado com o PDV. Feijóo, que deixou a assembléia cercado de seguranças e só concedeu entrevista aos jornalistas na sede do sindicato, admitiu o desgaste com os 30% que votaram contra o plano de demissões:

¿ Nós estamos evitando o fechamento da fábrica, mas com muito trauma. O melhor acordo seria não discutir nenhum tipo de demissão. Mas temos obrigação de fazer com que prevaleça a decisão da maioria.

Sindicato tem ação contra condições diferentes do plano

Segundo Feijóo, muitos estão descontentes com a diferença nas condições nas etapas do PDV. O plano aprovado ontem estabelece que até 1.500 trabalhadores devem se desligar da empresa até o fim de fevereiro de 2007. Os que aderirem ao PDV entre 25 deste mês e 21 de novembro, receberão 1,4 salário por ano trabalhado na empresa. Se a meta não for alcançada, duas novas fases de adesão ao PDV serão abertas, mas os benefícios diminuem, para um salário e 0,6 salário por ano trabalhado, respectivamente.

Cerca de 500 trabalhadores afastados desde 2003 da fábrica (em licença remunerada e no Centro de Formação e Estudo) também terão um PDV, com benefícios entre 0,6 e 0,4 salário por ano de empresa.

¿ Tentamos de todas as formas, na mesa de negociação, que essa diferenciação não existisse, mas a fábrica não abriu mão ¿ disse Feijóo, informando que o sindicato tem pronta uma ação contra a empresa em favor desses trabalhadores. ¿ Mesmo que eles não recebam agora, nós faremos com que recebam a diferença na Justiça.