Título: FMI CRITICA POPULISMO NO GASTO PÚBLICO DA AL
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 15/09/2006, Economia, p. 32

Crescimento da economia brasileira foi desapontador, afirma vice-diretor, que ressalta necessidade de reformas

CINGAPURA. O Fundo Monetário Internacional (FMI) fez um alerta ontem para o aumento dos gastos públicos na América Latina nos dois últimos anos ¿ com uma análise sobre essa alta no Brasil ¿ e criticou o perfil destas despesas, consideradas ¿pouco focadas em ações que garantam um crescimento mais sustentado, como investimentos em educação, programas sociais ou infra-estrutura¿.

Segundo o economista-chefe e diretor do Departamento de Pesquisas do FMI, Raghuram Rajan, o aumento dos gastos públicos na região está fortemente contaminado por um ¿populismo nascido da sensação de grande desigualdade no continente¿.

Meirelles: discussão do nível de crescimento é avanço

¿ É certo que a população dos países da América Latina se ressente de mais acesso à educação e à saúde, e esse descontentamento acaba se manifestando num aumento do populismo em toda a região. ¿ disse Rajan, ao ser perguntado especificamente sobre Peru e Bolívia. ¿ A forma como alguns estão tentando fazer mudanças, no entanto, com subsídios, controles de preços e quebra de contratos, parece-me equivocada. É melhor criar oportunidades para todos e corrigir desigualdades no meio do caminho do que simplesmente tirar de uns para dar para outros.

No caso brasileiro, especificamente, o vice de Rajan, Charles Collyns, afirmou que o crescimento da economia é desapontador e que o gasto público cresceu, motivado pela alta da arrecadação. Ele diz que essa despesa deveria ser feita de forma mais eficiente, apesar de elogiar os esforços de reforma do setor público feitos pelo Brasil nos últimos anos.

¿ Com a expectativa de inflação baixando, há espaço para novas reduções. Ao longo do tempo, teremos um aumento dos investimentos no país. ¿ disse Collyns. ¿ Mas há ainda uma grande agenda de reformas a serem feitas, e o gasto do governo precisa ser mais direcionado a programas sociais e de infra-estrutura.

Collyns disse que os spreads bancários no Brasil continuam elevados e que isso é, em parte, resíduo da instabilidade macroeconômica do passado. Há uma disposição do governo para melhorar a situação em outros pontos, como mudanças nos sistemas de informação para concessão de crédito ou na Lei de Falências, mas a consolidação dessas reformas ainda é necessária. O FMI estima que o Brasil cresça 3,6% este ano e 4% em 2007.

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, elogiou a discussão atual sobre o nível de crescimento que se busca para o país:

¿ Durante os últimos anos, crises periódicas, sejam de natureza inflacionária, sejam de natureza de balanço de pagamentos, têm impedido um crescimento maior da economia brasileira. Hoje, eu acho um avanço que tenhamos deixado de discutir como sair das crises para discutir o nível de crescimento que queremos ter. Este debate é normal.

Meirelles disse que o papel do BC é defender a moeda brasileira, fixando a taxa de juros necessária, e que a saída para acelerar o crescimento do país passa por reformas estruturais. Entre estas estão a solução para o rombo da Previdência, a regulação do sistema de concessões, a fim de estimular investimentos em infra-estrutura, além da reforma política, capaz de dar mais representatividade ao Congresso para discutir questões polêmicas, como os gastos no Orçamento.

¿ Para o BC, o importante continua sendo que a meta de superávit primário seja atingida e ela será, tanto este ano quanto em 2007 ¿ disse ele.