Título: SENADORES DESAFIAM BUSH EM LEI SOBRE PRISIONEIROS
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Fonte: O Globo, 15/09/2006, O Mundo, p. 34

Powell se opõe a tribunais militares

WASHINGTON. Num desafio direto ao presidente George W. Bush, a Comissão para as Forças Armadas do Senado americano aprovou ontem um projeto de lei que dá a estrangeiros detidos por suspeita de terrorismo mais direitos do que o governo gostaria e que, segundo os senadores que votaram a favor da proposta, melhoraria a imagem do país, criticado pelo tratamento dado a presos da guerra ao terror.

Quatro dos 13 republicanos na comissão se juntaram aos 11 democratas, rejeitando uma proposta de Bush para evitar que os réus tenham acesso a provas confidenciais contra eles e aprovando um projeto alternativo.

O projeto aprovado pelo Senado resiste ainda a uma tentativa do governo de definir de forma mais estreita o tratamento de prisioneiros de guerra previsto pela Convenção de Genebra ¿ e que Bush disse ser essencial para a continuação do trabalho da CIA para obter informações dos detidos. Ele limita ainda o uso de depoimentos como prova e restringe o uso de prova obtida por coerção.

A proposta ganhou o apoio de republicanos de peso, como os senadores John McCain e Lindsey Graham, mas ainda tem um caminho duro pela frente. Não está claro se chegará ao plenário, já que o senador Bill Frist, líder do partido, pode apresentar, em vez deste, o projeto de lei de Bush, que ele apóia.

¿ Não vamos vencer a guerra matando cada terrorista com uma bomba ou bala. Ganha-se uma guerra persuadindo as pessoas no Oriente Médio a rejeitar o terrorismo ¿ disse Graham, antes da votação.

Horas antes, Bush havia ido ao Capitólio tentar convencer deputados republicanos a apoiarem sua proposta, aumentando os poderes do governo para interrogar suspeitos. O presidente também quer que o Congresso aprove uma lei apoiando o programa de espionagem de ligações telefônicas e e-mails.

¿ A tarefa mais importante do governo é proteger a pátria ¿ disse Bush.

A oposição aos pedidos de Bush ganhou o reforço inesperado do ex-secretário de Estado Colin Powell, que escreveu uma carta a McCain. ¿O mundo está começando a duvidar da base moral de nossa luta contra o terrorismo¿, escreveu o general da reserva e ex-chefe do Estado Maior das Forças Armadas. Powell se referia ao projeto da Casa Branca de criar comissões militares especiais para julgar suspeitos, dizendo rejeitar esforços para ¿redefinir o artigo 3¿ da Convenção de Genebra, que proíbe tratamento desumano a prisioneiros. ¿Além disso, a medida colocaria nossas tropas em risco¿, acrescentou.

A carta levou a Casa Branca a negar que tentasse modificar as condições da convenção, afirmando que queria apenas esclarecer, sob a lei americana, o que é permitido pelo tratado internacional e o que não é.